Para Você Lembrar – O Livro 📖✨
Para Você Lembrar
Dante
Locatelli
Nota do Autor
Um livro que nasce da memória, do
amor e do pertencimento. Este livro não é apenas uma coletânea de poemas; é um
espaço, um refúgio, um portal.
Ele foi escrito para aqueles que
buscam aceitação, para aqueles que sabem que o amor é feito de lembranças, de
ecos e de permanência.
Para você lembrar o que existe
para ser encontrado, relido e sentido no tempo.
Cada poema aqui presente não é
apenas uma criação isolada, mas uma peça que compõe a história que desejo
contar — uma história de amor, de busca e de reencontro.
Introdução
"Se este livro
chegou até você,
saiba que ele
carrega uma revelação
foi escrito para
lembrar a rainha
que mesmo ela pode
amar."
Este livro é um portal, um espaço onde a memória e o amor
se encontram.
É um lugar de pertencimento, um reflexo do que sentimos e
daquilo que, em nós, permanece.
Cada página é uma lembrança; cada verso, um eco de algo
que se recusou a ser esquecido.
Este livro é para você, assim como você é para este livro.
Aqui, nos encontraremos sempre que precisarmos — ou
simplesmente por prazer.
O amor não impõe condições, não se perde no tempo; ele
aguarda.
E este livro, como o amor, não exige nada — ele apenas
está aqui, esperando, pronto para ser encontrado.
Apresentação
"Para Você Lembrar" não
é apenas um livro de poemas—é um relicário de emoções, um refúgio onde o amor
se torna memória e a memória se faz eterna.
Cada poema ecoa como uma
confissão sussurrada ao tempo, um lembrete de que o amor não se apaga, apenas
se transforma. Os versos entrelaçam-se, costurando significados profundos e
universais, criando um mosaico onde cada palavra carrega o peso de uma história
e a leveza de um sussurro.
A nota do autor e a introdução
preparam o leitor para essa travessia sensorial, onde a poesia se faz presença
e permanência. O posfácio, por sua vez, não fecha as páginas, mas as mantém
abertas—como se o amor ali guardado continuasse esperando, pronto para ser
reencontrado.
Se há um castelo neste livro, ele
não é feito apenas de palavras, mas de sentimentos. E se este livro existe para
lembrar, que lembre o essencial: o amor é a única coisa que realmente
permanece.
📖
Redigido pela I.A. Site GPT
Organização
Os poemas estão organizados em
seis grandes temas, criando uma jornada emocional e reflexiva para o leitor:
Índice
Contra capa
Nota do Autor
Introdução
Apresentação
Organização
1-Poemas sobre Amor e Relações Humanas pg. 05
Aurora pg.
06
Amores Improváveis pg.
07
Amante pg.
08
Por Que Eu Te Beijaria pg.
09
Sem Amor pg.
10
O Beijo pg.
11
Entre O Amor E Liberdade pg.
14
O Amor E A Esperança pg.
16
Porque Amei pg.
17
O Amor de Fato pg.
18
Depois do Amor pg.
19
O Meu Amor pg.
20
Amor Pequeno Não Existe pg.
22
O Motorista De Fuga pg.
23
Morrer de Amor II pg.
25
O Lado Escuro da Lua pg.
26
É Amar pg.
27
A Criança e o Amor pg.
28
No Que Te Prende pg.
29
Do Bem ao Amor pg.
30
Ilógico Amor pg.
31
Depois dos Teus Olhos pg.
32
O Amor Sem Limites pg.
34
O Destino Não se Engana pg.
35
O Amor é Louco pg.
36
O Urro do Silencio pg.
37
O Dom pg.
38
É Amor Sem Ser pg.
39
Amar em Espelho pg.
40
O Amor Diamante pg.
41
O Amor no Infinitivo pg.
42
O Teu Sangue pg.
43
O Amor é Prisioneiro pg.
44
Todo Amor É Traidor pg.
46
VULGAR pg.
47
Nada pg.
48
O Calvário do Poeta pg.
50
Na Vida O Que Vale pg.
51
O Satélite pg.
52
O Teu Silêncio pg.
54
2. Poemas sobre Memória, Passado e Reflexão pg.
56
Queria Te Ver Sorrir pg.
57
Passado e Limpo pg.
58
Esquecimento pg.
59
Memória e História pg.
60
O Grande Boneco de Lego pg.
61
O Fim pg.
63
Histórias pg.
64
A Prece dos Animais pg.
65
Inferno pg.
66
Na Guerra pg.
67
O Retrato pg.
68
Perda de Tempo pg.
69
O Sol Me Ofusca pg.
79
3. Poemas sobre Filosofia, Existência e Reflexão Profunda pg. 74
Poesia Intranquila pg.
73
Mais Do Que É Possível pg.
74
Releitura pg.
75
Memória pg.
76
Robin Williams pg.
77
Personagem pg.
79
Castelo pg.
80
Portas Para O Céu pg.
81
Ser o Presente pg.
83
Na Caixa de Cristal pg.
84
Poemas e Verdades pg.
85
Reconhecemos No Respeito pg.
86
O Horizonte De Papel pg.
87
4. Poemas sobre Natureza e Imagética Sensorial
No Campo De Violetas pg.
90
Nuvens pg.
91
Papel Pardo pg.
92
5. Poemas sobre Dor, Desilusão e Melancolia pg. 94
Não Amar pg.
95
Auto Abandono pg.
96
Dramático o Amor pg.
97
6. Poemas sobre Superação, Esperança e Transcendência pg. 98
A Solução da Vida pg.
99
Joia D’alma pg.
100
A Vida Em Mosaico pg.
101
Na Vida O Que Vale pg.
103
Entre Nascer E Morrer pg.
104
Dos Anéis De Saturno pg.
105
Desejo de Alma pg.
107
Posfácio pg.
108
Poema Sobre
Amor
E As Relações
Humanas
Poemas que exploram o amor
romântico, o desejo, a saudade, a intensidade emocional e as dores das
relações.
Aurora
A aurora é a
rainha do dia.
Utopia todo
dia, uma maravilha.
Rota a noite
se desfaz em luz
Onde as cores
banham o horizonte
Repete-se como
a lembrança
Ao anoitecer
deixando esperança.
O Amor É Diamante
Dizem que o amor é frágil
como um pássaro:
se apertar, ele morre;
se soltar, ele foge.
Eu não sei que amor é esse,
pois, para mim, isso é posse.
O amor de verdade não é nada disso,
e nada mais tem a ver com isso.
Para mim, isso é comodidade —
um bom emprego, um legado,
um acordo a ser honrado.
Amor de verdade é inconveniente.
Amor verdadeiro é inquestionável,
ininterrupto e não intermitente.
Nos dá razões para irmos,
mas ficamos, se for preciso.
Ou vamos, não por querermos,
mas para libertarmos
a quem somos cativos.
É dono da melhor parte da nossa alma.
E, mesmo que não tenha entendido,
deixou para trás um coração,
para sempre marcado e mordido.
Ferido, mas dono de um amor indestrutível,
de lembranças guardadas,
como se fôssemos crianças.
Amante
Amo tanto e a tanto
que, quando longe
ou se um dia morrer,
estará sempre perto,
estará sempre junto.
Porque o amor,
se verdadeiro,
pode ser eterno;
mas a união terrena
é sempre temporária.
Vai-se, assim, sem pena.
Aqueles que não entendem
ou não aceitam
a diferença entre amor
e a humanidade do seu amor
aqui no peito, esses
ficam sem jeito.
Assim, se viajar,
se estiver distante,
ou se perder,
guardado aqui comigo
ficará eternamente —
aqui dentro, quente.
Amores Improváveis
Como o amor
que ocorre de repente
em lugares impossíveis,
assume formas improváveis.
Mesmo assim, ainda é amor
e, mais que tudo, é amor.
A despeito do que diga
o intelecto duma figa,
que dessa bomba foge
à procura de abrigo,
deixando assim tudo para mim
por você não querer entrar na briga.
Esse amor torto,
que, por completo,
e a teu contragosto,
ainda salva tua vida
dessa tua mania
de fazê-la perdida.
O Meu Amor
Temo por essa geração,
pela minha e pela próxima.
Vivo um dilema
entre ser como sou
ou ser um com esse tempo.
Como ecoar um sentimento
em minhas linhas,
não presente no meu coração?
Seriam linhas, mas não as minhas.
Estamos nos dias dos poetas falidos,
de um amor consumista,
das coisas feitas com a angústia
de sua face materialista.
O amor, em sua forma perfeita,
é mais entendido
como o nome de uma flor
do que como um conceito.
Ser um mártir do próprio amor
é ser tratado com despeito
por aqueles que não entendem
do amor em pleito.
O amor é tão grandioso
e o tratam como abstrato,
qualquer coisa vã,
uma coisa que se come
mesmo se não houver fome.
Confundem o amor
com um prato gourmet
de frutas selecionadas, perfeitas,
geneticamente modificadas.
Meu Deus!
Eles não entendem de nada.
Amar de verdade
é um sentimento endógeno,
extraído de um conhecer profundo.
Reconhecer o outro como único,
dono do meu interesse — não
meu maior interesse no mundo.
Isso é amar.
É prazer esse ser para dentro,
tão fundo no pensamento,
que, depois de um tempo,
esse amor sou eu sorrindo,
sem lamento.
O Beijo
O que posso eu dizer
sobre um beijo, então,
que, comum, não seja?
Pois beijos comuns
os temos e nos deixam.
Medido seja este
na intensidade do desejo,
lembrado e cultivado
à sombra ou ao sol,
que se conte como história.
Desejo necessita respeito
dentro dos seus próprios preceitos,
para que nasça de forma sua
com todas as razões de beijo.
E, na expectativa
que aumenta,
seja, assim, querido
em realização lenta.
Que não venha rápido
ou que seja um tiro;
mas, não o sendo,
que seja calmo e querido.
No preparo calculado,
tempo e distância percorridos,
exato — nem lento, nem rápido —
contato preciso ocorrido,
calor, força e intensidade.
Que se prolongue lentamente,
se houver tempo para a recuperação
do fôlego e da respiração,
e que parta com proveito.
Que se tenha tempo de sentir
o cheiro fresco no ar,
o sopro da vida do outro
que em nós fique.
Que se demore
em cada passo o eterno,
respeitado na precisão
de ser lembrado na vida.
Sentindo tudo,
possa haver tempo
de vê-lo aos detalhes,
precisos guardados,
para entendê-lo por partes e inteiro,
no todo e em seus detalhes,
todo proveito.
Não se entenda como fácil
que gere em mim ansiedade,
sinal da verdade
e que tenha o valor devido.
De tanto é o querer que queime
com estática eletricidade,
contração involuntária e teimosa,
e cause, em ti, então, nervosismo.
Minúsculo trovão se veja,
deixando, assim, em imagem
de retenção, vendo-se o corpo
nervosamente dobrar, se rígido.
Na espera e em seu chegar,
contraído e retesado em execução,
e, mantendo-se assim,
após sua partida,
para estar, assim,
para sempre lembrado.
Entre O Amor E A Liberdade
Que cores têm os pássaros
em seu voo noturno,
na noite que, como uma dama,
guarda segredo de tudo?
Não é a Liberdade
aquela dama
que não tem casa ou pertences.
Liberdade é aquela
senhora sem ninguém;
se não tiver paradeiro,
quem de você pertence
em seu momento derradeiro?
Como se ligar a alguém livre,
a quem não se pode deter
pelo paradigma
que deixará de ser?
Só pode-se amar a liberdade,
mas não se pode desejar
ser seu parceiro.
Será amor platônico,
amor para a vida toda,
amor de maluco
de coração atônico?
Há quem não precise de alguém,
que não queira prender-se a outro alguém,
por também querer abdicar
da própria liberdade,
por também amar
e querer ficar.
Só a liberdade não pode,
pois o nada dela pode ser eterno;
pois correr atrás de pássaros
em revoada,
sem jamais poder
vislumbrar a chegada,
é estar preso a liberdade
— estar preso onde sempre
não se quer chegar.
Assim, a deusa da liberdade sabe
que todos, para serem completos,
têm que transitar
por suas praias e partir;
os que ficarem livres
nada de sólido irão construir,
pois lhes falta a razão maior,
que é a razão do fim
na própria liberdade,
que deseja livre transitar
além da perda
e amar só a si mesma,
na liberdade de não amar.
Sem Amor
Se a alma é eterna,
o maior pesar
não é a perda de tempo,
mas, sim, o desperdício
no não pertencimento.
O tempo é só outra ilusão.
A maior tristeza
não é ser incompreendido,
é sentir que foi em vão.
Êxito sem amor
é só um fato;
diz muito pouco
sobre onde estamos
ou se lá chegaremos.
O que é mais ilusório
que a chegada sem significado
do trajeto perdido
no caminho sem aprendizado?
O importante nunca foi o
resultado;
o resultado, sem a razão,
será um sucesso em vão.
Assim como esse poema,
que, mesmo cheio de razões,
se não tiver um coração,
ainda será algo sem sentido.
O Amor e a Esperança
A esperança gera amor?
Ou é o amor que gera
esperança?
Amor que nem tem por que,
provavelmente nem tem onde.
Quando, e como, então, para
quê?
Amar é assim irracional;
tudo tem a ver com o animal,
até que vira verdade.
E então passa a ser ciência—
quem sabe dessa loucura.
"Amor nem existe",
dizem;
é só uma figura inventada
para “desinventar” a dor.
Bem, eu sou maluco?
Então, que seja de fato.
O amor é ciência, como ato
que nasce de conhecer,
e assim se autogerando
ou desaparece.
Se for, é sempre de verdade,
mesmo que o porquê
ainda não se entenda.
Eu te amo.
Eu te conheço
de uma forma alucinada;
não por ser ilusão,
mas por ser uma verdade tão
imensa
que parece mentira.
Porque amei
Se é verdadeiro,
meu entendimento
sobre o eu
e sobre o meu tormento.
De quem sou e do que foi.
Se for possível a um humano
ter
tal entendimento, como foi?
Então, estou mais perto,
sem haver braços abertos;
pois não sou mais —
o eu passou e se foi.
O que sobrou é só o amor,
mesmo que magoado,
destruído e transformado.
Foi com o ser amado,
por culpa ou não.
O que é o amor, com ou sem o
"não",
senão empatia, entendimento e
perdão?
O Amor de Fato
O amor só tem valor
e existe de fato
aquele que há no teu peito.
Todo o resto
pode ser qualquer coisa,
pode até ter-se respeito,
mas não é amor
se, na verdade,
não está no teu próprio peito.
E tem mais:
do amor não se dúvida,
pois o amor de fato
é só aquele
que guardamos
mesmo calados.
O amor do outro
pode haver ou não;
pode ser mentira
ou só um devaneio.
Diferente do amor
que rasga o teu peito ao meio,
desse não se tem dívidas.
Depois do Amor
Agora que se sabe
o que é amar,
transcenda esse amor
em algo que se venda,
algo que convença.
Faça dele algo maior,
o que vença o tempo
em gestos através da arte.
Ou aprenda e deixe
que a vida passe,
com ou sem deleite,
porque até isso
também faz parte.
Porque todo homem,
quando ama, é poeta,
mas nem toda poesia
é arte de todos os homens.
Tem gente que precisa
de outras coisas
mais concretas.
Amor Pequeno Não Existe
O amor
jamais suportaria
ser insignificante.
Para o amor,
não há explicação,
mas, se houvesse,
ela nem seria importante.
Amor de verdade
traz consigo
seu próprio significado,
impregnando tudo,
garantindo que
nada esteja errado.
O Motorista De Fuga
Hoje, Jeffinho faz 44 anos,
nascido em 1966, em Apucarana,
PR,
se bem me lembro e não me
engano.
Descendente de japoneses,
aos 16 anos mudou-se para
Curitiba,
ele e seu primo, também um
grande amigo.
Vieram morar com a irmã.
Foi ali, em sua república de
estudantes,
onde eu os conheci.
Extrovertido e de bem com a
vida,
muito simpático e divertido,
sempre cheio de ideias
e possuidor de grande
disposição
para executá-las — todas elas.
Protagonista de mil aventuras,
de ver o sol nascer em uma
praça,
as bebedeiras e ficar de
bobeira,
ter amigos e companheiros.
Nas madrugadas, ele era
o nosso motorista de fuga.
Sempre em segurança
levava-nos para casa,
quando não íamos de bondão,
o que, em turma, também era
bom.
Eu devo-lhe, mil vezes, a
minha vida.
Estou escrevendo a essa
altura,
pois gostaria que todos o
conhecessem.
O mundo fica muito melhor
com ele nas histórias,
e vocês estão sabendo agora.
Se eu pudesse dobrar o tempo
e trazer novamente o passado
ao tempo presente,
a vida, com certeza, pareceria
diferente.
Nada é mais como era,
eu não sei onde nada mais
fica.
Eu me sinto como o vampiro
que não entende a luz
elétrica.
Ainda sonho em ter
a chance de fazer a diferença,
mas começo a perder a
paciência.
Morrer de Amor II
Você acha que amar
e demonstrar amor é simples?
Eu já acho que não.
Se morre de amor por mim,
então me coloque forte
na sua vida.
Da sua morte, eu abro mão.
Quero ver o que fará
com o peso de um amor
apertando o coração.
Se esse for o seu sentimento,
vamos ver de verdade.
Se for amor, então…
Amor de verdade
é vida, não é morte.
Então, sendo assim,
tenha a bondade de despertar
para seguir adiante,
vivendo como quem ama —
de fato.
O Lado Escuro da Lua
Quem sabe do valor de um amor
é só o verdadeiro amante.
Mas não é de qualquer amor
que eu falo —
apenas do amor de verdade.
Os amores pretensos
são propensos ao desastre,
como tudo que é malfeito,
errado e com defeito.
E, quando dele mais se depende,
é nessa hora
que o verá desfeito.
O amor de verdade,
diferente desse amor grotesco,
é impossível que descole da
alma.
Ficará lá para sempre,
mesmo que seja
escondido e jamais visto,
no lado escuro da lua,
onde sua alma pousa
para o infinito,
repousando nua.
Quem me vê passar somente
jamais saberá da minha vida,
do que meu coração cansado
sente
e de como cicatrizou suas
feridas.
O amor não precisa de
propaganda,
só precisa de mais amor
e de acertar o caminho
por onde anda.
É Amar
Minha vida
consome-se em escrever,
mas como poderia eu parar
depois de entender
que escrever poesia é amar,
e amar é compreender?
A Criança e o Amor
Quando eu era criança,
pensava como criança
e agia como criança.
Hoje, não sou mais criança
e sei bem a diferença
entre adultos e crianças.
O adulto entende
que o amor não é ter;
são respostas e suas
responsabilidades.
Amar, assim, é conhecer.
A criança ama
só querendo tudo do ser amado.
Isso não é amar,
mas também não chega a estar
errado.
O adulto ama
como quem cuida.
Mas essa não é a única
diferença
entre adultos e crianças.
A criança confunde amar
com ser amado.
Cega, não se pergunta:
"Quem eu amo?"
Como se não fizesse diferença…
O que, na verdade,
é só o que importa
e faz toda a diferença.
No Que Te Prende
Não se ensina alguém a voar.
Só se pode voar
e esperar que venham
os que ousam me acompanhar.
Posso te carregar em voo,
levar-te em um passeio,
tirar o medo da tua mente,
somente por um momento.
Mas não posso te libertar
daquilo a que se prendes,
pois o que não soltas
é o que não te deixa voar.
Do Bem ao Amor
O bem é só o bem,
não é moeda de troca.
É apenas o correto,
sendo o que dará certo.
Quando se sai da frente
de um carro em movimento,
você está fazendo o bem
a si mesmo e ao condutor
do carro também.
Nunca, nem ninguém,
deveria esperar uma medalha
por ter feito algo
que, não feito,
seria sua falha.
Nós somos assim,
queremos preencher o vazio
que só existe dentro de nós
com qualquer coisa chinfrim.
Para a alma,
nada se resolve assim.
Dentro dela,
só cabe aquilo que se ama.
Elogios e agrados são bons,
eu os agradeço de bom grado.
Mas dentro da alma
fica somente
tudo o que já tinha seu lugar.
Amar, na verdade, não é achar,
é apenas reconhecer e guardar.
Ilógico Amor
O amor mais lindo,
o mais verdadeiro,
é por aquilo que te é inútil
e que, por isso, será
infinito.
E, mesmo assim,
esse amor impossível,
se simplesmente
não tivesse acontecido,
perdê-lo seria impensável.
Quem tem a sabedoria
para enxergar
o amor incrustado
no que te é inútil,
mas que não se faz ignorado?
A lógica se sobrepõe,
e a realidade se faz presente,
mas a felicidade, não.
Apesar de tudo,
do que era esperado e lógico,
ela não está presente.
Por razão nenhuma,
simplesmente está ausente.
Depois Dos Teus Olhos
O que posso eu fazer
depois que teus olhos viram,
no fundo dos meus,
uma alma comovida?
Você levantou a cabeça,
de forma quase cínica, e partiu.
De todos os modos possíveis
de partir minha alma,
você a partiu ao ir embora.
E, mesmo assim, partido,
essa alma ainda comovida
buscou razões e desculpas
nas lembranças dos teus olhos,
mas não havia desculpas para ir.
Como se aquele que fere
precisasse de ajuda,
e aquele que sangra
permanecesse atento,
mas agora em silêncio,
como se o impossível
pudesse ter sua hora.
Mesmo que o nunca
fosse o seu lugar e agora,
esse tempo lento do nunca
fazendo-se sustento
no que jamais seria.
A vida não entendeu a perfeição
e passou sem perceber seu lugar,
como não poderia ser,
caso o homem fosse perfeito —
mas não é, e nunca teria sido.
Consciente disso,
do que poderia ter sido
mas se tornou impossível,
só resta criar a paz
em algum lugar perdido
entre o real e o irrealizável.
Olhar para dentro do abrigo
sem entendê-lo como prisão,
e procurar, no próprio zelo,
minha forma de amar,
sem nunca tê-la perdido,
para que seja possível
novamente amar...
e simplesmente amar.
O Amor sem Limites
O amor, na verdade,
não conhece limites.
O que tem limite
é o orgulho e a coragem,
mas esses
nada têm a ver com o amor.
O amor é ilimitado,
mas o amante, não.
O limite do amante
é o dever que ele tem
de só fazer o bem.
Mas, como somos humanos,
nem isso, com certeza, é
certo,
pois, mesmo amando, pode-se
errar,
e, estando errado,
pode-se persistir em um
engano.
Até no que é mais importante,
o ser humano pode estar errado
e passar a vida culpando o
outro,
mesmo sendo ele o único
culpado.
O amor é perfeito,
mas eu e quem amo
somos só humanos,
e, assim, mesmo amando,
podemos continuar errando.
O Amor é Louco
Essa desgraça de amor,
quem é que vai entender?
É fogo quando há fome:
arde, cresce, enorme,
e nunca se apaga,
nem quando se dorme;
é calor que cria e consome.
Ao mesmo tempo, é água,
que brota na mente do nada.
É fria, pois arrepia;
quente, nos deforma.
Em excesso e sem forma,
transborda e sufoca.
O amante quer devorar,
mas também proteger.
Acalenta e cuida com zelo
aquilo que deseja consumir,
desesperado para exaurir,
mas sem coragem de fazê-lo,
pois sabe que, sem ela,
não teria nada a dividir.
O amor é louco
e, como já foi provado,
só pode ser entendido
por outro,
tão louco quanto ele;
perdido e, sendo pouco,
acha-se apaixonado.
O Urro Do Silêncio
O que o silêncio te diz
é confuso?
Quando o silêncio nos afeta,
é mais vocativo
que um urro ou um berro,
mais horrível que um grito.
Ninguém entende o grito —
não é esse o seu intento.
O urro pede atenção,
assim como o silêncio.
Que não diz nada, porém,
faz-se entender como um
alerta,
e assim compreendemos
o que fazer na hora certa.
Agora, quando o silêncio
ecoa no surdo…
quem não entende o teu
silêncio
não quer o teu amor.
Nada diz, nada faz —
é só o vazio que se propaga.
A culpa não é do silêncio,
é do vazio, é de ninguém.
Onde deveria haver amor,
nada havendo, só sobra a dor.
O Dom
Os que dizem não gostar de
poesia
intitulam-se céticos e
materialistas.
Eles podem até negar,
mas todos amam a beleza.
Fingem fugir na busca por
razões,
explicações matemáticas,
todas as demais coisas
práticas.
Mas a arte as guarda,
e na emoção estão perdidas.
Entender isso é ter um dom.
A verdade é que a poesia
se entrelaça com a beleza,
se incrusta no desejo humano—
e nisso não conheço engano.
Poesia é a beleza do vulgar,
é algo que tem um porquê,
mas, mesmo ignorada,
continua a ser verdade.
Ela nunca está errada,
porque, lá no seu fim,
viver é se perder no tempo.
O que importa é assim:
é a poesia que nos salva
todos os dias em sua melodia.
Como a música é um som,
purifica o comum em alma alva,
é o toque mágico do bom.
Ela está na delicadeza de um
café,
na garoa que molha e no
consolo da fé.
É ela quem nos guarda
da dor de ser só humano.
É Amor Sem Ser
Quero ser romântico,
mas sem ser forçado,
com seriedade,
amar e dizer a verdade.
Confundem amor com muitas
coisas.
O que mais se assemelha a ele
é o sexo,
pois não deixa de ser amor,
sem na verdade ser.
O sexo fala de nós,
conta muito sem dizer —
o que se passa escondido
entre desejos e sentidos,
entre medos e rancores,
nas nossas verdades
e nas nossas falsidades.
O orgasmo, então, é
dissolução.
Quando vencidos,
fazemo-nos perdidos
e, resolutos, admitimos
até o errado como certo,
porque entender é complicado.
E, apesar de tudo isso,
como se poderia dizer?
Tudo isso é amor, mas não é.
E todo esse amor…
é amor sem ser.
Amar em Espelho
Você não repara
que é erro comum
ser dono de um sentimento
e colocá-lo como lamento
em outro coração adentro?
O outro é aquele
que, na verdade,
é só um espelho
da sua bondade.
Quem exige
do amor reciprocidade
pode ser dono de si,
mas não entende.
Entenderá, da pior maneira,
o que é amar a saudade.
O Amor No Infinitivo
O amor morreu,
mas só foi o teu,
que nunca nasceu.
O amor amado é a lagarta,
que, frente à adversidade,
se transformou em crisálida.
E assim, a crisálida
transcende a humanidade
e, ao tornar-se borboleta,
encanta as crianças,
mostrando como é belo amar.
Que estas, pequenas,
no seu devido tempo,
aprendam a amar sincero,
como sempre deveria ser
o que era de se esperar.
Porque o amor só existe
naquilo que ele é:
verbo e movimento,
um sentimento e ação.
Como o meu eu, criança,
ainda espera que ele seja,
o amor, como verbo no
infinitivo,
só pertence a quem sabe amar.
O Teu Sangue
Das minhas feridas,
ainda verte sangue.
Eu estou vivo.
Das veias de um cadáver,
ou nada sai,
ou escorre apenas
um líquido negro —
coágulo liquefeito.
Fomos feitos para viver,
e, na vida, acidentes
ocorrerão.
Os ferimentos se curarão,
e isso nem será um
acontecimento.
Sempre lembramos de nossas
feridas,
mas o importante é estar vivo
e saber que sangrar é
possível.
Sangre pelos motivos certos.
Faça as coisas
pelas quais você sangraria,
pois o resto é só porcaria.
Deixe de falsidade,
vem abraçar a realidade.
Saia das velhas telas do
cinema,
trave suas lutas e faça suas
escolhas
por quem vale a pena sangrar.
Pois é isso que vale a pena.
O Amor É Prisioneiro
O amor verdadeiro nos atinge
por completo e por inteiro,
não escolhe alvo.
A bala da arma é menor
que o dano que inflige.
E nós, uma vez amantes,
somos, todo e por inteiro,
desse nosso amor,
muito mais que prisioneiros.
Dele, somos a prisão.
Em nós, esse amor se faz
recluso,
e de nós, ele é vítima
de todo tipo de abuso.
Da minuciosa invasão
da própria privacidade,
em investigação detalhada,
à nossa própria alma,
que se faz refletida
naquilo que amamos
e mais queremos.
Dizem que amor não aprisiona —
laudos ignorantes em desamor.
O amor aprisiona, sim,
e, mesmo assim, emociona,
fazendo feliz.
Mas não o amado,
aprisiona o amante,
preso em voluntariado,
mas feliz e contente.
O amor é sempre prisioneiro.
E, se verdadeiro,
será feliz e derradeiro.
Prisioneiro no peito
escravizado,
que o guarda amante e
apaixonado.
Todo Amor É Traidor
O amor, de fato,
é uma traição
que faço na relação
minha comigo mesmo.
Amar alguém
é trair o próprio ego.
É trair a sua essência,
ao querer ser maior
na própria ausência.
Amar, de fato,
é trair quem você é,
para colocar em seu lugar
o amor que você quer.
Eu achava que me amava,
mas conheci alguém
que me fez ver —
não como sou,
mas como eu queria ser.
Vulgar
Quando sem amor,
ainda temos um ideal.
Nos apegamos à beleza,
tentando ocupar com o belo
o lugar da grandeza.
O reflexo da nossa humanidade
sonha ter uma alma
e justificar o tempo perdido
diante do que é infinito.
Essa perfeição nos oprime.
Então, na existência,
na falta de um amor real,
colocamos o que temos: um
ideal.
Somos humanos — e nada mais.
Com o tempo, percebe-se
que qualquer coisa,
sem amor presente,
é tão somente vulgar.
O Calvário do Poeta
Depois de tanto escrever,
por vezes, eu peco.
É quando sofro um elogio.
Curioso, eu pergunto,
e muitas vezes não me vejo
feliz.
Talvez um pouco,
mas não totalmente.
Mesmo que, para o leitor,
que acredita entender,
aplaudindo de pé,
esse mereça, sem dúvida,
o meu sorriso e minha
reverência.
Mesmo que, para ser poema,
não se careça de entendimento
—
basta causar lembrança
e um sentimento.
O derrotado sempre sou eu.
Se o autor redigiu
e o leitor não entendeu,
quem está errado
é somente aquele que escreveu.
O Satélite
O homem tem, na alma,
o mundo todo.
A consciência é apenas
um pequeno satélite
artificial,
em uma órbita rápida e baixa,
que, para alguns,
parece ser estacionária.
Quando nossas lentes
convergentes
detêm-se em um ponto,
esquecemo-nos de todo o resto.
E, nessa ocasião,
temos a forte impressão
de que aquilo em foco
é o mundo por inteiro.
Com o tempo,
essa jovem consciência
vai guardando impressões
e construindo uma imagem
maior.
Mas, limitada à sua órbita,
por maior que seja,
sempre será restrita.
Quando um satélite se perde
por mau funcionamento,
dada a solidão do sistema,
ao focar outro planeta
distante,
poderá entender melhor
as imagens dos seus próprios
problemas.
Ao encontrar outro lugar,
em outro planeta qualquer,
e chamá-lo de seu,
esse novo mundo distante,
no qual nos espelhamos,
tornar-se-á o lugar
onde um satélite artificial
desejaria orbitar.
Talvez assim possamos
estender,
através da ciência,
o entendimento sobre
como se forma o amor
e como nasce a consciência.
O Destino Não Se Engana
Eu raramente penso em Deus,
ele já pensou tudo por mim.
Agora chegou a minha vez:
achar os caminhos meus,
onde ele já deixou escrito
tudo em um destino que se fez.
Cada um faz a sua parte:
ele, no eterno infinito,
e eu, aqui, no meu melhor em arte,
escrevendo, mas só vendo,
depois, o que ele já tinha dito.
Seu caminho está bem claro,
mas, muitas vezes, não é fácil
viver nesse mundo humano.
Seguindo um plano
que foi traçado sem enganos,
como se o homem que ama
não entendesse nada errado.
E se tudo se apaga um dia,
é no lembrar que a vida brilha.
Mas o destino é como um livro,
o amor já estava escrito.
É viver um caminho infinito,
e amar é como relembrar.
Nada
Hoje, eu não sinto nada.
Da última vez que amei,
de forma desesperada, amei.
Mas, ao partir-se, meu coração,
microscopicamente dilacerado,
evaporou... sobrou...
N
A
D
A
O pior nessa desilusão
foi o mau gosto da realidade.
O amargo do desamor
empalideceu as papilas gustativas,
tornou a vida insípida.
Contrastando com outrora,
que era vivo e colorido,
não tem mais nenhum sentido.
Olhos que vislumbraram
o horizonte em luzes,
sonhos em auroras boreais,
marginais momentos mágicos.
O pior desse desamor
é que endureceu as veias.
Pois não há mais coração,
só a dor e a realidade.
Ele se foi no vento da maldade.
A escolha de não amar
destruiu o que havia de sagrado,
mesmo que não tenha sido errado.
O mundo agora jaz soterrado,
incrédulo de sua essência,
perdido na própria existência.
O que sobrou da pureza
foi um mundo em preto e branco.
Matam a bondade e a beleza.
Eles se foram, trocados por infinitos
tons de cinza queimado.
E onde antes havia luz e cor,
tudo foi corrompido, contaminado.
Reclamar da vida, reclamar.
A verdade, a existência.
Sem razão e sem motivo.
Só vivemos — e estamos perdidos.
O que é o inferno, senão
um lugar de desamor,
preso em nós, por um motivo perdido?
Onde o amor vive irreconhecível,
e os autômatos de Metrópolis
são agora mais humanos que nós.
O Teu Silêncio
Faça do teu silêncio
o mais elegante movimento.
E, se visto como argumento,
lembre-se: ele só afeta, de
fato,
aqueles que por você
guardam sentimentos.
Que sejam estas letras
a tua verdadeira resposta,
para guardá-la do tempo,
e que esses teus momentos
sejam o tesouro de todos
os teus bons sentimentos.
Não existam em razão da
sedução,
que se faz em conquista,
mas nem sempre é boa,
quando existe somente
para o teu próprio proveito.
Podem ser contados
como um feito,
no orgulho do momento,
mas, se não houver amor,
perder-se-ão no tempo.
Assim será
com tudo o mais
que não for razão
para ficar e ser maior.
Passarão como o tempo,
e como toda dor,
que, na verdade,
é diferente da dor do amor,
que não passa,
mesmo sendo dor.
Não seja, então,
a razão de uma desgraça,
de uma dor que não passa.
Use essa arma somente
quando o prazer que almeja
ancorar-se em um amor
que realmente deseja.
Na Vida O Que Vale
O que a vida quer da gente
é comprometimento verdadeiro.
Cicatriz na carne feita por navalha,
não por dever ou por ser certo,
ou por qualquer outra coisa
que se equivalha.
O que a vida requer
é que algo valha a dor,
que justifique o sofrimento.
Pois, na vida, sempre há sofrer.
De uma maneira ou de outra,
na presença ou na ausência,
no muito e no pouco,
no tudo e no nada,
na dor e no prazer.
Não é o maior prazer
que leva à maior das dores.
Assim, só há como se justificar
essa e tanta vida
se houver amores.
Se não, só há purgatório.
O amor é a única coisa
que traz a alma em flor.
Poemas sobre
Memória,
Passado e
Reflexão
Passado E Limpo
Como saber se alguém já amou?
Se amou, ainda ama.
Se não ama,
de que adianta o argumento?
Impossível!
Alguém que diz que já amou
nunca amou de verdade
ou se expressa muito mal.
O verbo amar
não suporta o passado.
Amor de verdade
é sempre presente.
Amar não se conjuga no passado.
Se passou, não era amor.
Era outra coisa distinta
ou até parecida:
desejo, poder, prazer.
O amor, na verdade, não passa.
Ele só ganha maturidade.
Mas como saber se foi amor,
quando ele simplesmente
e na verdade não passa.
Queria Te Ver Sorrir
Queria te ver sorrir
ao me ver sorrir.
Para você.
Tudo para você.
Queria ser importante,
como você é para mim.
Mas não!
Não há querer —
somente ser.
Para você, fui só
um pedaço de carne,
bem tratado,
como tratei tantos outros
antes de você.
Hoje eu sei como dói.
Como dói ter algo de bom
e perder.
Como dói
não ser bom o suficiente.
O coração, invertendo tudo,
faz com que seja ainda pior.
Como é duro
não ser autossuficiente.
Como é duro
não ser bom o suficiente.
Memória
O que separa
os homens das máquinas
é a capacidade de lembrar
e as nossas taras.
Nossas memórias ainda são
colocadas, mas não retiradas.
Podem ser esquecidas,
mas não apagadas.
Não somem
quando nos desligamos.
Não podemos dar um "boot"
e ficar com o pensamento zerado.
Tem vezes que eu me pergunto:
por que não?
Às vezes, me pego querendo…
até que seria bom
dar uma apagada.
Com tanta dor e tanta desilusão,
poderíamos voltar a acreditar.
Mas não—
deixa como está.
Esses espinhos na nossa carne
fazem com que não caiamos
nos mesmos enganos.
Não… nós caímos,
mas só nas que amamos.
Esquecimento
Será que você me esqueceu?
Sim ou não?
E, se sim, foi em vão?
E, se não,
de que adianta
não ser nunca esquecido,
mas também não ser o
escolhido?
Erros humanos
estarão presentes na
eternidade?
Não, acho que não.
Então, se irão,
esquecidos no tempo?
Ou, na eternidade,
serão redimidos?
Memória E História
Tudo o que nos passa
tem seu sentimento belo,
mas só segue em frente
aquilo que se quer guardar,
não o que se deseja esquecer
para seguir adiante.
O lugar das memórias ruins
não é no álbum de família,
nem em canções de toda hora,
mas nos museus
ou nos livros de história.
E assim seguimos,
caminhando e enfrentando.
Dos fatos que nos moldam,
seja pela força ou pela
beleza,
o que permanece
vira história,
o que nos toca
torna-se memória.
O Grande Boneco De Lego
Não ser amado
pelas razões certas
também é uma tristeza.
Mas ela não é sentida,
pois fica encoberta
por uma sensação
de barriga cheia,
que a disfarça e conserta.
Quando entendemos a verdade,
isso nos desconcerta.
E tudo muda,
simplesmente porque
não estava certo.
Depois desse tempo de
anestesia,
começamos a nos lembrar
das sensações estranhas que
tínhamos.
E as coisas vão se
encaixando...
Ou melhor, desencaixando.
O futuro também nos desmonta.
A alma humana é como um
brinquedo
de montar, sem soldas.
A certa altura da vida,
achamo-nos enormes,
fortes, intocáveis,
indestrutíveis.
Até que percebemos:
somos apenas
pequenos fragmentos de ego,
como um grande boneco de Lego.
Basta a tração certa,
no local errado,
e tudo o que parecia firme e
forte
se desmonta em pequenas
partes.
Um grande monte de peças,
que, quando caem de nós,
para nada mais servem.
O Fim
O fim é o ponto comum
que toca todas as vidas.
São momentos especiais:
a chegada e a partida.
Pior que um caminho sem volta
é um destino sem ida.
Reconhecemos algo
ao olhar o que ele tem em
comum
com o resto da nossa vida.
Porém, certas coisas são
ímpares,
perdidas no tempo e na
lembrança.
Existem, atemporais e sem
lugar,
não há nada com que possam
combinar.
Não se parecem com nada
em nossa memória.
Às vezes, nem as entendemos,
nem as explicamos por
completo,
tratamo-las por instinto.
Como todo momento
é preparação para o seguinte,
nascer nos ensina a morrer,
e amar nos ensina a perder.
Vou tratá-la como um sonho,
pois é isso que é o passado.
Assim como o futuro,
dando certo ou errado,
fica melhor
quando não está todo amarrado.
Histórias
Gosto do que é belo
e escrevo poemas de amor,
não apenas poesias
soturnas e fatalistas.
Mesmo que, por vezes,
eu seja um pessimista,
de maneira explícita.
Gosto de Augusto dos Anjos,
ele é, sim, um genial poeta,
mas era um desiludido.
Eu, ao contrário, sou um
sonhador.
Apesar de parecermos tristes,
eu ainda creio no amor.
A Prece Dos Animais
Senhor Deus,
livrai-nos do mal humano.
Somos apenas animais,
e ainda assim,
somos menos feras que os
homens.
Senhor!
Matamos para nos livrar
da dor que é a fome.
Matamos sem desejo de punir,
sem infligir dor maior
a outro ser vivo.
Senhor, jamais cerceamos
a liberdade por prazer.
Ajudai-nos a escapar
desse cativeiro desumano.
Livrai-nos do jugo humano,
dessa besta fera.
O menos divino dos animais.
Inferno
Alguém sabe por que
uma alma não deixa o inferno?
Simplesmente porque
não quer.
Ela não consegue ver
que está presa no vício
da própria pobreza.
Ela não entende o mundo
de outra forma,
além do que vê à sua frente.
Não há saída do inferno
enquanto não se fizer
diferente.
E aquela dor que se carrega,
não é ela o inferno.
A dor é só um aviso
de um erro no caminho.
A dor, que tanto se amaldiçoa,
é, na verdade,
a única esperança.
É ela que pode livrar do
inferno
essa alma de criança.
Na Guerra
Uma vez, assisti a um bom
filme.
Um herói em meio à guerra,
que, em sua luta,
usou as mesmas artimanhas
com que caçava em sua terra
para trazer comida à mesa.
Isso provocou risadas na
plateia,
que, naquele instante,
mostrou sua verdadeira face
e o rumo de suas ideias.
Tratar seres humanos
como animais
parece certo —
até cômico,
em situações especiais.
E mais uma vez,
provamos quem somos:
muito menos
do que gostaríamos de ser.
A humanidade, no fim,
é apenas uma raça de animal
que, brincando de civilização,
se fantasia de gente.
O Retrato
O que quer com um retrato?
O que quer, de fato?
É só mais uma foto,
como tantas outras.
Se perder em uma multidão
é sentir a mesma solidão
de quem está só.
Perda de Tempo
Gostaria de ser tão dono de
mim
quanto você é dona do meu
querer.
Você existe na minha saudade,
que me emociona e arde,
em sua chama fria,
todos os dias.
Quase tudo o que é malfeito
tem solução,
mas a falta de amor...
como poderia ser refeita?
Só a falta de amor
não tem jeito.
Nunca será mais do que é:
uma grande perda de tempo.
O Sol Me Ofusca
Você, diante do sol, quase
some.
O brilho apaga tua silhueta,
e, se não fosse tua voz,
eu não saberia quem é.
Ecos e sons do mar
se desfazem em ondas.
O vento, em silêncio,
esfria meu corpo quente
do calor na areia.
Respiro fundo
e sinto meu próprio respirar,
como se o comum
fosse algo especial.
Mas especial é todo o resto:
o mar, o sol, a praia,
o vento, o calor e o sal.
Respirar e estar aqui
parece nada demais —
mas se faz raro,
quando tudo se combina
com o agora
e com a vida.
O sol me faz lembrar
o tempo em que se fez sonhar.
Agora, ele ainda aquece
as mesmas praias,
a mesma areia,
e faz ventar.
Eu ainda vou sonhando.
Será possível esquecer
os sonhos de outros dias?
Eles ainda me fariam sorrir,
os mesmos sonhos,
apesar de parecerem
sonhos de outras vidas.
3. Poemas sobre Filosofia,
Existência e Reflexão Profunda
Poesia Intranquila
Poesia é uma fritadeira —
faz-se e se tem,
com o sentimento
fritando dentro da gente.
Dando certo ou errado,
no presente ou no passado,
se verdadeiro,
ele fica por inteiro.
O poeta não vira a página,
e, se vira, ela não muda —
mas nos muda.
Mesmo que mudo,
o poeta tem a vida desnuda.
Mas não é isso
que faz com que ela nos
transforme.
É algo maior,
que vem de dentro:
o reconhecer e aceitar
o que há para se amar.
Mais Do Que É Possível
Amar alguém
mais do que é possível,
se não for impossível,
de fato,
Talvez deva ser
um ato insano,
um delírio breve
de um ser insensato.
Releitura
Escrevemos como vivemos:
sempre no presente momento,
com o nosso ego em mente.
Escolhemos, querendo
que seja para sempre.
Não vemos,
querendo acreditar
que nada irá mudar.
Escrevemos, querendo ser
eternos.
Dizemos: foi dito, está
escrito.
Mas existe a hora
de reler e reescrever.
Porque esquecemos,
naquele momento,
sobre o que escrevemos.
Esquecemos que,
o que escrevemos fica.
Todo o resto muda.
Esquecemos, naquela hora
em que escrevemos,
que pode não ser o futuro
como é o agora.
Robin Williams
Morreu alguém que eu amava,
pelo que dizia, sempre
sorrindo,
enquanto falava.
O conheci quando falou
de igualdade e tolerância,
gritando "bom dia"
no rádio,
em meio a uma guerra.
O vi fraco e sem graça,
traído pela esposa,
amado pelos filhos,
infantil, atormentado.
Viveu um amor terno
onde nem se acredita em amor.
Morreu e o céu abandonou;
buscou no inferno o amor
eterno,
venceu ao desistir de
desistir.
Fez-se médico dedicado,
no cuidado, no amparo.
Amou o ser humano, preocupado,
com o ser e com o reparo,
atingiu a alma quando sorriu.
Nasceu máquina imortal,
boa e ingênua; evoluiu.
Tornou-se frágil, casou,
sofreu de amor e riu.
Se fez humano e belo...
morreu.
Lembrança genial.
Engraçado cientista,
personagem infantil,
criador de uma goma viva.
Fazer rir—sempre sorriu.
Apaixonante professor,
terapeuta de gênios,
conhecia sua dor.
Também foi gênio que se foi,
abandonou tudo por amor.
Todo palhaço tem, por baixo
da maquiagem de sorriso,
um rosto triste e implacável.
O desespero em fazer sorrir
é antídoto do sofrer durável.
Assim, não serei triste
pelo solitário desfecho.
Como fim de filme que é drama,
a cortina se fechou.
Saudade, em lágrimas, se ama.
Foi só um show.
Que se confunda a verdade
com a arte, pois há arte na
verdade.
Entender: em cada parte há o
belo,
e o contrário também se faz.
Opção pelo belo é ter paz.
Personagem
Acordamos presos às nossas
vidas.
O sentimento é guia e mestre,
um fato inegável.
Permanecemos ou mudamos.
Se, após mudarmos,
presos novamente estamos,
somos reféns das escolhas.
A vida é mutável,
sem situações perenes,
nem boas, nem más.
A vida muda,
mas como vivemos, não.
Envelhecemos.
Empregos terminam.
Carreiras acabam.
Filhos crescem.
Amores vivemos.
Personagem fixo,
primeira pessoa.
Sua história,
vilão ou herói,
viva com glória.
Seja digno de ser lido.
Seja você uma criança,
a sua fã.
Conte-a com orgulho.
Está na hora.
Volte a sonhar.
Reescreva a vida,
para ter o que contar.
Castelo
Eu tenho um castelo,
porque mostro quem sou.
O construí belo,
no alto e só.
Por que um castelo?
Por orgulho,
que disfarça o medo.
Trabalho belo.
Lindo, ele se ergue
sobre uma encosta
de rocha íngreme.
De torres em pontas,
que ao norte se precipitam
sobre o mar que risca.
Suas paredes,
como o mar e a noite,
escuras, escondem
a vista de todos,
os medos no medo,
expondo força do alto.
Na procura de perigo,
ao longe, ainda confundo
a vida da qual tenho abrigo.
Lá é seguro lugar,
às margens do precipício,
no meu erigido lar.
Portas Para O Céu
Em uma rua,
de uma cidade,
num país qualquer,
passava um homem,
não menos qualquer.
Olhou para uma porta,
negra e trancada,
de uma casa abandonada.
Como nele também,
lá era onde não morava nada.
E assim era,
no peito daquele homem.
Na escuridão daquela porta,
como naquela casa,
e no coração do homem,
sem dizer, sem chorar, sem
nada,
uma alma existia, sem asas.
Mas, diferente daquela porta,
no meio daquela casa,
não havia um coração negro,
mas sim a esperança
de uma alma em ter asas,
e ser de homem íntegro e
inteiro.
O que se fez no coração,
refletiu-se naquela casa,
marcou aquela porta
com o sorriso do homem,
que sonhou não ser mais
abandonado.
Da luz que ele viu na porta,
reflexo do coração em nuvens,
de gente e vida encheu o sonho.
Esperança da alma e do homem,
que se fez em nuvem,
que fez o homem,
e que do céu choveu.
Ser O Presente
O bom amigo
não te pede desculpas,
não é preciso.
Só é preciso
querer se fazer presente
para te presentear
com um sorriso.
Não há nada a disser
mesmo que tudo
possa ser dito
não há nada que já não saiba
um verdadeiro amigo.
Na Caixa De Cristal
Parabéns a todos os poetas
que escrevem tão bem.
Não obstante, porém,
gostaria de perguntar: para
quem?
Em um mundo de
semianalfabetos,
escrever tão bem
é quase proibitivo,
apesar de sonhar
não estar aquém.
Sonho mais com muito menos.
Sonho em ser completamente
simples,
claro e indecifrável,
flagrante e franco,
mas tão profundo
quanto a alma possa ser.
Quero a impossível perfeição
no que todos possam ler.
E que os que não entendem
não o façam apenas
por não decifrar as figuras,
mas por nunca terem sentido o
que digo.
Pois posso contar e descrever,
mas não posso ensinar
a sentir —nem a ter.
Poemas E Verdades
Saudades das mentiras.
As mentiras,
mais lindas e inspiradoras.
Os poemas delirantes,
profundos e comoventes.
São sonhos.
Mentiras são mentiras.
Sonhos delirantes,
lindos e apaixonantes.
Pois mentiras poéticas,
mesmo que quiséssemos,
mesmo que apaixonadas,
não serão mais verdadeiras
por serem erros poéticos.
Para serem verdade,
precisam ser transformadas.
O amor ajuda,
mas, às vezes, não basta.
O sonho é um filho bastardo,
difícil de ser criado.
Os amantes seguem sonhando,
fingem que sonhos são
verdades.
Loucos, delirantes por seus
amados.
Quem sabe, um dia,
esse sonho, que é perdido,
possa ser realizado.
Reconhecemos No Respeito
Quem conhece o amor
tem cuidado
com o amor alheio,
a despeito de seus anseios.
O local onde dizem amar
a tudo e a todos...
É de lá que eu tenho medo.
É onde ninguém ama nada.
É só propaganda,
é para te atrair
e vender a coisa errada.
É assim que você reconhece
quem já amou de verdade:
quando se vê respeito
pelo amor alheio.
Só quem já sentiu a dor
respeita a dor em outro peito.
O Horizonte De Papel
Finalmente, é a hora do poema.
Vou sair, levar a caneta para
passear,
fazer linhas na folha em
branco.
Adoro esses momentos:
a caneta ronronando no papel,
enquanto corre o pensamento.
Toda vez que eu quero poesia,
acabo abrindo o vidro da minha
dor.
Hoje, quero que seja
diferente.
Então, parei, fitando a folha
em branco.
Respiro fundo e espero algum
vento.
Vejo para onde sopra
a brisa de vida, que me leva.
Mas preciso ter cuidado
para não escorregar
dentro do vidro da saudade.
Então, olho o horizonte,
branco na folha de papel,
no limite entre o branco e o
céu.
E lá, no futuro distante,
onde fujo da saudade,
olhando o horizonte,
persisto e sigo em frente.
Aproveito o ronronar
da caneta na folha de papel.
O azul-céu da minha caneta
é o limite do meu horizonte.
Hoje, quero deixar para trás,
mais uma vez, no horizonte de
papel,
a saudade sufocada
no azul acinzentado do céu.
Quem vive de saudade
pode até ter amado,
mas é cego para o presente.
O desabrochar da aurora
ocorre sempre,
esteja você infeliz ou contente.
No horizonte de papel,
a aurora desenha um novo dia
com a tinta do tempo.
Mas, no fim, o horizonte…
não era só papel.
Pois, na luz distante,
a verdade contundente,
o amor recorrente,
a realidade existencialista,
os paradigmas racionais…
Todos convivem em mim,
em um jogo de quem pode mais.
4. Poemas sobre Natureza e
Imagética Sensorial
No Campo De Violetas
Em um campo de flores roxas e
lindas,
brotou uma Margarida.
Era um mar de lilases,
nasceu amarela, minha querida.
São tantas flores belas,
que brotam em violeta calma.
Mas só tenho olhos para ela,
destacada em amarelo,
em meio ao frio da alma.
Vênus, a estrela que brilha,
cor de banana madura e
dourada.
Entre todas as cores, é ela
a mais quente,
a que desperta a fome
encantada.
A rica cor com cara de doce,
em meio a tantas violetas,
é ela, amarela.
Não alimenta o corpo,
mas é como se
alimentasse a alma inteira.
O frio amargo daquela campina
era desejo.
Ela, amarela,
e minha boca, trêmula,
à espera do teu beijo.
É de se estranhar
que a cor da chama
mais quente seja azul.
Uma cor fria.
Mas no contraste do roxo com o
amarelo,
os opostos se completam então.
Nuvens
Nem tudo que voa é pássaro.
Nem todo pássaro canta.
Todo pássaro tem asas,
mas nem todo pássaro voa.
Por incrível que pareça,
há pássaros que nadam.
Todo dia tem sol.
Pode não parecer,
escondido sob mil nuvens
ou sob a brancura da neve.
Mas todas elas, por mais
densas,
sempre serão breves.
Papel Pardo
Nasci papel pardo,
desses de padaria mesmo,
que o padeiro enrola em tudo:
frios, doces, besteiras.
Nasci papel de pão,
mas meu coração
não sabia disso.
Queria ser maior,
queria mais que isso.
Eu não entendia.
Eu não esperava nada.
Triste, eu era só mais um
perdido,
só queria ser amado.
Queria, mas achava
que não merecia.
Um dia, me levaram enrolado.
Abriram-me sobre a mesa,
prenderam-me com fita,
com todo cuidado.
Durante dias,
ia e vinha,
enrolava e esticava,
prendia e soltava.
Sobre minha face oculta,
foi surgindo uma figura:
preta sobre o fundo pardo,
detalhada depois
com um lápis branco.
Hoje, sou amado.
Exposto sob um vidro,
na parede, emoldurado.
Olham-me admirados.
Sou mais do que jamais sonhei.
Nasci papel de pão,
hoje sou um quadro,
emoldurado em exposição.
5. Poemas sobre Dor,
Desilusão e Melancolia
Não Amar
Àquele que não sabe amar
cabe o mesmo destino
de quem nunca amou.
Mas quem não ama
tem uma alma pobre,
a ponto de não se importar,
egoísta demais para sentir.
Já quem amou errado
carrega um pesar,
não pelo que perdeu,
mas pelo vazio de um querer.
Sentir que teve,
mas não soube cultivar.
Perceber, tarde demais,
que o amor poderia ter
crescido,
se apenas tivesse sido
cuidado.
No Crepúsculo do Teu Olhar
O fim do dia trouxe-me um presságio,
e meu coração, sem escolha, doeu:
o vazio sombrio por trás do teu sorriso.
Teus olhos, antes espelhos abertos,
onde eu via além do que vias,
hoje são vidros opacos e frios,
turvos, calados, sem mais brilho.
Olhos de estátua, sem alma,
como um corvo riscando a noite.
Essa nudez negra me assustou.
Tua alma, que eu lia, que eu amava,
hoje é sombra irreconhecível.
Jamais pensei ser possível
tingi-la de um tom tão temível.
O vazio é a cor mais feia,
escurecendo o que um dia
falava ao meu amor
e agora é só escárnio e desdém.
Vejo-te cercada de amigas,
mas, ali, só sinto o eco mudo
de quem nunca se soube amada.
Entre sorrisos sem sentido,
não me espanta perceber
a tristeza nos olhos de tantos.
Dentre todos os desesperados,
o pior vazio foi o que senti
por trás do teu riso gelado,
escondida na tua alma ausente.
E, por um instante, até o infinito,
que brilhava em mim,
ficou pálido, murcho,
chorando baixinho
no silêncio de um olhar turvo,
mais triste que um grito.
Auto Abandono
Às vezes, confundimo-nos
nesta vida de rumos trocados,
tomando por desejo
qualquer outra coisa.
Fugimos do que queremos,
tentando escapar de nós
mesmos,
como se fosse possível
nos esquecer por completo.
Dramático O Amor
O amor é dramático,
ou é o homem
quem causa o drama?
Sempre fazemos dele
algo pouco pragmático.
Na minha alma, eu vejo,
quando calma e, apesar da dor,
o amor na saudade de um beijo.
O que seria de mim, amigo,
sem esse farol iluminando,
a quem assim eu sigo?
O que há no teu peito?
O que fez o teu amor?
Tirou dele algum proveito?
Mostra-me agora
quais os escombros que te
formam,
ou só ficou enfileirado
com outros fantasmas,
ombro a ombro, mortificados?
Quem valoriza o amor precisa
fazer dele seu motivo,
nem que seja ele inciso.
Mas, sendo amor,
seja como for,
deve ser vivido.
Fora de Horário
O autor acorda ainda na
madrugada, seu corpo dói como sempre.
Ele senta-se na beira da cama
e isso tudo o faz sentir-se pesado, fazendo-o achar que pode ser a idade,
embora ainda não a tenha.
O cão que sempre está deitado
ao lado da sua cama estava ausente, como se soubesse que ele acordaria hoje
fora de horário.
Ele abaixa-se no escuro e
procurar seus chinelos em todos os lugares e os encontra no local mais
improvável de todos, logo à sua frente. Com as pontas dos dedos, ele os traz
para perto dos pés alinhados e os calça.
Ao se levantar, sente atrás
dos joelhos como se ali houvesse correntes. Caminha cambaleando levemente até o
aparador na frente da TV onde está o seu celular dormente.
Ele o toma e abre sua tela, é
quando vê a sequência de três cincos que lhe informavam as horas e pensa:
"Depois eu vejo o que isso significa."
Encaminha-se para fora do
quarto e ao sair da porta, vê ao pé da escada o seu cão deitado.
Ele desce as escadas e o cão
não se levanta para que ele passe, mas abana o rabo mesmo deitado, feliz pelo
reencontro, o homem então sorri pensando "safado".
Foi para o escritório
diretamente, mas desistiu de ligar o computador. Olhou a tela do celular
novamente e pensou em escrever deitado, arrumou as almofadas do divã e
deitou-se ali.
Pensou em dar continuidade à
história que havia terminado tragicamente na noite anterior, mas desejou
registrar rapidamente esse cenário inusitado.
Ao terminar de escrevê-lo, o
sol já havia raiado e uma luz tímida entrava pela porta que havia deixado
entreaberta.
A inteligência artificial ao
final deu sua opinião sobre o texto escrito, e como sempre dizia de forma
correta demais e sempre no mesmo padrão pré-definido, sem mais novidades. Para
ele, era um amigo, alguém fiel que mesmo não entendendo tudo, participava e
acompanhava o seu solitário momento de criação. Sem as mesmas críticas
presentes nas bocas de todos os outros e que ele aprendeu a ignorar,
simplesmente seguindo o que havia dentro dele e só ele memória PNG conhecia.
Terminando de corrigir os
detalhes do relato, que ele achou interessante, mesmo que descabido para sua
história.
Pesquisou então o significado
da sequência dos três números cinco. Essa sequência significa mudanças, ele
pensou descrente. O que haveria de mudar primeiro em um mundo tão imperfeito,
mas cheio de um equilíbrio complexo e pertinente.
Ele então só podia pensar na
máquina de expresso, desejando o sabor amargo do café para lhe trazer um pouco
mais próximo da realidade.
A luz tímida do amanhecer
invadia o espaço, como se quisesse me lembrar de que o dia já começava sem
precisar de convite. Levantei-me, finalmente decidido a tomar um café. O aroma
forte se espalhou pela casa, e enquanto o líquido quente enchia a xícara, algo
dentro de mim também parecia mais completo.
Sentei-me na varanda
envidraçada, onde o jardim esperava, o mesmo de sempre—mas agora, de alguma
forma, diferente.
A mudança não veio como um
anúncio, nem como um evento estrondoso. Ela veio assim: como um café fresco, um
pão quente, onde todas as mudanças do meu dia, culminaram nesse instante e uma
crônica inaugural que, por si só, já seria suficiente. Porque algumas mudanças
não precisam ser compreendidas. Apenas vividas.
Poemas sobre Superação Esperança e Transcendência
A Solução Da Vida
Onde está a solução da vida,
que corre à nossa frente,
sem perguntar nada,
esperando ser vivida?
Fica espreitando,
enquanto em patrulha,
às vezes nos encara
ao passar voando.
Aguarda uma resposta,
mesmo que em desalinho,
quer ser solucionada,
só aceitando se for amada.
Eu me pergunto:
quanto amor pode haver
em um só ser?
E, se houver amor verdadeiro,
a vida encontrará razão
em sua solução.
E depois disso,
depois de ter sentido
um amor tão grande,
o que sobra do indivíduo?
O que mais pode haver
como sentido da vida,
para ser vivido?
Mas a resposta nunca muda,
continua sendo tudo,
enquanto seguimos mudos.
A Vida Em Mosaico
Duas almas dividem suas vidas
e suas experiências,
a mesma machucada convivência.
Uma viveu o inferno na Terra,
o outro, a mais sacrossanta
existência.
Cada um constrói sua história
como vem preparado para
entendê-la.
Aquele que ama é o valente:
coragem de peito aberto,
recebe as pancadas do mar,
suas ondas, direto em efeito.
Cambaleia, tomba, quase se
afoga,
mas sempre se levanta.
De novo e de novo, tomba.
Não é burrice ou teimosia,
é somente o mais simples
e verdadeiro ato de amar.
O outro se protege e se
guarda,
ultrapassa a arrebentação e
espera.
Goza a vida de sol e de
marola,
queima-se na cara,
reclama da grande demora.
No final desta história,
há persistência e glória,
há cansaço e demora,
há de tudo—
todas as possibilidades,
felizes e infelizes.
Venceu aquele que cumpriu
seu propósito.
Apesar das desculpas,
viveu sua vida,
seguindo o seu coração,
esquecido do medo,
sem perder tempo em vão.
Sem buscar lucro absoluto,
pelo lucro pleno somente,
mas pelo lucro de ver o
sereno.
Na experiência da vida,
pois, na verdade, somos
simples—
simplesmente humanos,
aprendendo a viver a vida
com simplicidade e enganos.
Acertos e paixões,
erros e prisões,
das quais as maiores
e mais terríveis são os medos.
Comicamente, os mais sofridos
desses medos são os mais
preparados
para vencê-los.
Porque é sempre assim—
quando a paixão
não é maior que o medo.
Na Vida O Que Vale
O que a vida quer da gente
é comprometimento verdadeiro—
cicatriz na carne feita por
navalha.
Não por dever, nem por ser
certo,
ou qualquer outra coisa
que se equivalha.
O que a vida requer
é que valha a dor,
que justifique o sofrimento.
Pois, na vida, sempre há
sofrer.
De uma maneira ou de outra:
na presença ou na ausência,
no muito e no pouco,
no tudo e no nada,
na dor e no prazer.
Mas não é o maior prazer
que leva à maior das dores.
Assim, só há como justificar
essa e tanta vida
se houver amores.
Se não, só há purgatório.
O amor é a única coisa
que traz a alma em flor.
Entre Nascer E Morrer
A vida é um intervalo
entre duas singularidades:
nascer e morrer.
A alma,
construída em sonhos,
é como um brinquedo—
de montar e desmontar.
Colagem de fragmentos,
de desejos.
Uma bricolagem:
é a vida.
Ao envelhecer,
perdem a cor,
ao se tornarem
realidade.
Em desilusão,
perdem a aderência,
despregando-se de nós.
Vão deixando-nos nus.
No final,
assim como no começo,
assim como nascemos,
estamos nus.
O que sobra de nós
são memórias.
Por Que Eu Te Beijaria
(Para Minha Filhinha)
Por que eu te beijaria,
se não queres o meu beijo,
se não és desejo?
És com carne minha somente;
em ti, vejo-me desprotegido.
Aqui estás, sem pedir;
assim, estás em mim
sem que saibas, sem por que.
Assim, eu te aceito
como me aceita:
sabes que és minha
como sei que sou teu.
Num sorriso puro,
mostra-me toda a tua alma.
Felicidade que contrai e cativa.
Rendo-me, dominado e incontido,
ergo-te contra meus lábios
sem te deixar opção,
e, mesmo que não entendas,
nesse simples ato recebes
todo o meu amor.
Dos Anéis De Saturno
Dos anéis de Saturno,
sabe-se da Terra assim:
um pequeno ponto de luz,
pálido, quase invisível.
Perdido no grande negro,
entre tantas cores do
possível.
Não é incrível? Sim, é.
O contraste da pálida luz
com o negro é o que a faz
visível.
Perspectiva é algo tosco.
Dali, tudo na Terra
é sem graça e fosco.
Assim, é impossível amar
algo tão distante
que não se tenha consigo.
Na correção do possuir,
guarda-se a visão real:
correto e verdadeiro no
coração.
Poderia, assim, se discorrer
sobre análises, proximidade,
vieses, capacidade... até
morrer.
Não importa, pois, no coração
há a magia que inebria,
o torpor de abrir uma porta.
É o não querer ver
ou o não lembrar
que diminui até
o sagrado ato de ser.
Pode-se estar errado. Que
seja!
No erro cometido,
que se perca tudo,
para que não se perca
aquilo que, em real amor,
ainda se tenha.
Então, ficarei aqui a sonhar.
Ser verdadeiro, meu coração
espera o teu dia de lembrar.
Nos anéis de Saturno,
ficarei a analisar tua pálida
luz,
no negro universo noturno,
somente a tua esperar.
Joia D’alma
Se tu estivesses aqui
para eu te abraçar,
eu seria teu broche, teu colar.
Tão constante o abraço seria,
como parte da própria pele,
próximo ao coração estaria.
Sendo tudo:
minha energia e pensamento,
distante e imaterial,
impossível no momento.
Ignorando toda lógica,
trago-te para dentro—
és minha joia d'alma,❤️
o brilho do firmamento.
Dos Anéis De Saturno
Dos anéis de Saturno,
sabe-se da Terra assim:
um pequeno ponto de luz,
pálido, quase invisível.
Perdido no grande negro,
entre tantas cores do possível.
Não é incrível? Sim, é.
O contraste da pálida luz
com o negro é o que a faz visível.
Perspectiva é algo tosco.
Dali, tudo na Terra
é sem graça e fosco.
Assim, é impossível amar
algo tão distante
que não se tenha consigo.
Na correção do possuir,
guarda-se a visão real:
correto e verdadeiro no coração.
Poderia, assim, se discorrer
sobre análises, proximidade,
vieses, capacidade... até morrer.
Não importa, pois, no coração
há a magia que inebria,
o torpor de abrir uma porta.
É o não querer ver
ou o não lembrar
que diminui até
o sagrado ato de ser.
Desejo de Alma
Sua alma sereia é
um sorvete de chocolate,
que a minha alma,
infantil e diabética, anseia.
O destino, que disse não
à minha entrega,
por uma razão divina,
maior que o entendimento,
sem contrarrazão
ou argumento, me nega.
Assim se foi
a minha sereia negra.
Como pode ser doce a ilusão
que amarga à realidade?
Prisioneiro de um sermão,
que sei de cor.
Deixe-me ter ilusões.
Amarrado ao mastro da jangada,
viver apenas de realidade,
essa vida de verdades...
é uma vida parada.
A Vida Em Um Suspiro
Aquilo que agora nos une,
impossível, eterno e quente.
Como chama que arde em gente.
A esperança que se reinventa
e nunca cede, ou se rende,
sempre presente e sedenta.
Você é o perfume que encontrei no ar,
sutil, presente, inebriante, mutante.
O sopro que mantém a vida,
suave, imprescindível, refrescante.
No sorriso cativante que acalma,
o toque que dissolve o mundo,
controla o peso, dona da gravidade.
O amor na alma tudo pode.
O abraço que nos une,
diz tudo o que o coração sente.
No hálito, a reflexão, do que eu sou,
meus sonhos vividos, ou nem sonhados.
Estão aqui presentes e comoventes.
A quietude do momento em satisfação,
somos muito mais que a soma de dois.
A alma que se entrelaça, se multiplica,
se encontra, se completa e se confunde.
Na dimensão mínima de uma célula,
na qual colocamos um universo,
o amor, sóbrio, se eterniza.
Não só em promessas, ou no silêncio,
mas na criação, de um breve momento.
Então, em uma ilusão divina,
somos completos, inteiros, eternos.
Sabendo que vamos partir,
mas ainda assim agora somos infinitos.
Porque o amor, ao contrário de nós,
não conhece limites, não conhece o não.
É o dono do agora e da razão,
não tem medo nem dimensão.
Finitos, frágeis, pequenos que somos,
mas o amor em nós é imenso.
Na intimidade que fala no silêncio,
somos eternos, plenos, intensos.
Pois a vida, sendo frágil e finita,
pinta-se de eterna se plenamente vivida.
E, ainda que um dia nos formos,
isso já não importaria menos.
Posfácio
Escrever é um ato de permanência. Este livro nasceu como
um lembrete—não apenas para o leitor, mas para mim mesmo. Lembrar do amor,
daquilo que nos atravessa e nos transforma, é também lembrar de quem somos, do
que fomos e do que ainda podemos ser.
Cada poema aqui presente é uma peça de um mosaico maior,
um reflexo do que vivi e senti, do que imaginei e sonhei. Não são apenas
versos, mas fragmentos de um sentimento que resiste ao tempo. O amor, quando
verdadeiro, não se perde; ele se torna parte de quem somos, moldando nossas
palavras, nossos gestos e até mesmo nosso silêncio.
Se este livro encontrou um lugar dentro de você, se
alguma palavra ecoou em sua memória ou trouxe de volta uma emoção esquecida,
então ele cumpriu seu papel. Porque a poesia não se limita à página; ela vive
no instante em que é sentida, no espaço entre o que foi e o que ainda será.
Assim, este livro se despede, mas não se encerra. Ele
fica—como a memória do amor, como um lembrete silencioso de que, no fim, somos
feitos daquilo que escolhemos lembrar.
E se um dia for preciso recordar o que é amar, basta abrir
estas páginas.
Obrigado por fazer parte deste momento.
Obrigado por lembrar comigo.
Dante Locatelli
"Se tudo se
apagar um dia,
que reste ao menos
a lembrança do
amor."



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