Capítulo 1 – O Amor Não Existe!
Capítulo 1 – O Amor Não Existe!
O amor existe de fato? Quem hoje acredita mesmo no amor?
Vivemos uma época em que a palavra "amor" é usada como verniz, ou como armadilha — algo que as pessoas criaram para mostrar sucesso e qualidade, para impor desejo aos outros como um carro de luxo ou uma confirmação da sua superioridade. Não como essência. Fala-se em amor nos comerciais, nas redes sociais, nas frases prontas dos influenciadores, mas tudo soa vazio, repetitivo, irônico. E isso tem tudo a ver com o amor — mas não com sua face mais importante. A mentira e a enganação existem na natureza como estratégia de sucesso amoroso. Em muitas espécies, é através da força ou da manipulação por coerção que se demonstra superioridade e se aumenta a prole, espalhando os próprios genes. Esse mecanismo primitivo, embora biologicamente eficaz, é apenas a base crua do amor como conceito evolutivo. É também por isso que falar de amor é tão difícil e gera tanta confusão: porque carregamos esse instinto em conflito com a aspiração por algo maior, mais verdadeiro e espiritual. É esse conflito — entre o instinto primitivo e a aspiração espiritual — que torna o amor tão incompreendido. E é justamente por isso que se torna essencial pararmos por um momento, para podermos entender as coisas como são e o que está realmente ocorrendo.
Amar parece uma fantasia adolescente, uma utopia reservada aos ingênuos. A pergunta que ecoa no fundo de muitas consciências é: o amor existe mesmo? Ou é só mais um mito bonito, útil à poesia e à manipulação emocional?
Quem hoje acredita realmente no amor? A maioria já desistiu sem perceber. Adaptaram-se a vínculos superficiais, a trocas funcionais, a contratos silenciosos de conveniência. Relacionamentos viraram plataformas de estabilidade, prazer e projeção — não mais lugares de descoberta, entrega e transcendência.
Onde podemos vivenciar o amor hoje em dia?
Quase não há mais espaços sociais ou culturais que celebrem o amor como virtude essencial. As relações estão atravessadas pela pressa, pelo medo, pela performance de resultados, pela comodidade, pelo conforto e pela capacidade de obter o prazer em suas mais diversas formas e intensidades. O tempo para conhecer a nós mesmos e a outro alguém, para se deixar afetar, para mergulhar em um contato real e usá-lo para crescer — desapareceu. O amor não cabe mais nas agendas modernas.
E quando aparece, assusta. Incomoda. Porque o amor verdadeiro exige uma verdade interior que a maioria não quer encarar. O amor incomoda porque revela o que há de mais humano e de mais frágil em nós.
Se o amor existe, por que ele é tão raro?
Porque ele exige um tipo de presença que se tornou rara. Porque ele exige coragem. Porque ele exige uma ruptura com o egoísmo, com o medo, com a carência travestida de afeto.
O amor é raro porque o ser humano atual, treinado para consumir e competir, ainda não aprendeu a sentir com inteireza. O amor existe — mas exige gente inteira para nascer.
Como funciona essa história de amor?
A história do amor sempre foi uma história de desencontros e milagres. De dores profundas e curas impossíveis. Amar é estar disposto a não entender, mas a permanecer. É reconhecer no outro um mistério sagrado que não se deve tentar dominar, mas servir.
Amar é um caminho — não uma fórmula. É uma escolha que se renova, não uma certeza garantida. Quem tenta aprisionar o amor em normas e resultados o perde.
Por que eu estou escrevendo este livro?
Porque o amor precisa de uma chance. E ninguém vai dá-la se não houver alguém disposto a defendê-lo. O amor precisa de algo antigo — uma palavra quase esquecida: uma apologia. Ele precisa ser defendido com coragem e clareza, diante das pessoas, de suas vidas modernas e de tudo o que hoje tenta reduzi-lo à aparência, consumo, engano ou conforto. Alguém precisa erguer-se em seu nome.
Escrevo este livro como quem abre caminho na floresta fechada da descrença. Escrevo porque, mesmo desacreditado, o amor ainda é o único gesto que faz a vida ter sentido e valer a pena.
Escrevo para lembrar que tudo o que não nasce do amor — morre cedo, pois é inútil e sem sentido. E que nenhum ato humano tem valor real se não for movido por amor ou como etapa na busca por ele.
Este livro existe para que o amor tenha uma chance e assim a humanidade ainda tenha uma chance.
Uma chance de ser visto. De ser compreendido. De ser vivido. E de, quem sabe, nos salvar de nós mesmos.
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