Para Você Lembrar - livro completo

 


Para Você Lembrar

 

Dante Locatelli


 

Nota do Autor

 

Um livro que nasce da memória, do amor e do pertencimento. Este livro não é apenas uma coletânea de poemas; é um espaço, um refúgio, um portal.

Ele foi escrito para aqueles que buscam aceitação, para aqueles que sabem que o amor é feito de lembranças, de ecos e de permanência.

Para você lembrar o que existe para ser encontrado, relido e sentido no tempo.

Cada poema aqui presente não é apenas uma criação isolada, mas uma peça que compõe a história que desejo contar — uma história de amor, de busca e de reencontro.


 

Introdução

 

"Se este livro chegou até você,

saiba que ele carrega uma revelação

foi escrito para lembrar a rainha

que mesmo ela pode amar."

 

Este livro é um portal, um espaço onde a memória e o amor se encontram.

É um lugar de pertencimento, um reflexo do que sentimos e daquilo que, em nós, permanece.

Cada página é uma lembrança; cada verso, um eco de algo que se recusou a ser esquecido.

Este livro é para você, assim como você é para este livro.

Aqui, nos encontraremos sempre que precisarmos — ou simplesmente por prazer.

O amor não impõe condições, não se perde no tempo; ele aguarda.

E este livro, como o amor, não exige nada — ele apenas está aqui, esperando, pronto para ser encontrado.


 

Apresentação

 

"Para Você Lembrar" não é apenas um livro de poemas—é um relicário de emoções, um refúgio onde o amor se torna memória e a memória se faz eterna.

Cada poema ecoa como uma confissão sussurrada ao tempo, um lembrete de que o amor não se apaga, apenas se transforma. Os versos entrelaçam-se, costurando significados profundos e universais, criando um mosaico onde cada palavra carrega o peso de uma história e a leveza de um sussurro.

A nota do autor e a introdução preparam o leitor para essa travessia sensorial, onde a poesia se faz presença e permanência. O posfácio, por sua vez, não fecha as páginas, mas as mantém abertas—como se o amor ali guardado continuasse esperando, pronto para ser reencontrado.

Se há um castelo neste livro, ele não é feito apenas de palavras, mas de sentimentos. E se este livro existe para lembrar, que lembre o essencial: o amor é a única coisa que realmente permanece.

 

📖 Redigido pela I.A. Site GPT


 

Organização

 

Os poemas estão organizados em seis grandes temas, criando uma jornada emocional e reflexiva para o leitor:

 

Poemas sobre Amor e Relações Humanas

 

Poemas que exploram o amor romântico, o desejo, a saudade, a intensidade emocional e as dores das relações.


 

Aurora

 

A aurora é a rainha do dia.

Utopia todo dia, uma maravilha.

Rota a noite se desfaz em luz

Onde as cores banham o horizonte

Repete-se como a lembrança

Ao anoitecer deixando esperança.

 


 

Amores Improváveis

 

Como o amor

que ocorre de repente

em lugares impossíveis,

assume formas improváveis.

 

Mesmo assim, ainda é amor

e, mais que tudo, é amor.

 

A despeito do que diga

o intelecto duma figa,

que dessa bomba foge

à procura de abrigo,

 

deixando assim tudo para mim

por você não querer entrar na briga.

 

Esse amor torto,

que, por completo,

e a teu contragosto,

ainda salva tua vida

dessa tua mania

de fazê-la perdida.

 


 

Amante

 

Amo tanto e a tanto

que, quando longe

ou se um dia morrer,

estará sempre perto,

estará sempre junto.

 

Porque o amor,

se verdadeiro,

pode ser eterno;

mas a união terrena

é sempre temporária.

Vai-se, assim, sem pena.

 

Aqueles que não entendem

ou não aceitam

a diferença entre amor

e a humanidade do seu amor

aqui no peito, esses

ficam sem jeito.

 

Assim, se viajar,

se estiver distante,

ou se perder,

guardado aqui comigo

ficará eternamente —

aqui dentro, quente.

 


 

Por Que Eu Te Beijaria

 

Por que eu te beijaria,

se não queres o meu beijo,

se não és desejo?

 

És com carne minha somente;

em ti, vejo-me desprotegido.

Aqui estás, sem pedir;

assim, estás em mim

sem que saibas, sem por que.

 

Assim, eu te aceito

como me aceita:

sabes que és minha

como sei que sou teu.

 

Num sorriso puro,

mostra-me toda a tua alma.

Felicidade que contrai e cativa.

 

Rendo-me, dominado e incontido,

ergo-te contra meus lábios

sem te deixar opção,

e, mesmo que não entendas,

nesse simples ato recebes

todo o meu amor.

 


 

SEM AMOR

 

Se a alma é eterna,

o maior pesar

não é a perda de tempo,

mas, sim, o desperdício

no não pertencimento.

 

O tempo é só outra ilusão.

A maior tristeza

não é ser incompreendido,

é sentir que foi em vão.

 

Êxito sem amor

é só um fato;

diz muito pouco

sobre onde estamos

ou se lá chegaremos.

 

O que é mais ilusório

que a chegada sem significado

do trajeto perdido

no caminho sem aprendizado?

 

O importante nunca foi o resultado;

o resultado, sem a razão,

será um sucesso em vão.

 

Assim como esse poema,

que, mesmo cheio de razões,

se não tiver um coração,

ainda será algo sem sentido.

 


 

"O Beijo"

 

O que posso eu dizer

sobre um beijo, então,

que, comum, não seja?

Pois beijos comuns

os temos e nos deixam.

 

Medido seja este

na intensidade do desejo,

lembrado e cultivado

à sombra ou ao sol,

que se conte como história.

 

Desejo necessita respeito

dentro dos seus próprios preceitos,

para que nasça de forma sua

com todas as razões de beijo.

 

E, na expectativa

que aumenta,

seja, assim, querido

em realização lenta.

 

Que não venha rápido

ou que seja um tiro;

mas, não o sendo,

que seja calmo e querido.

 

No preparo calculado,

tempo e distância percorridos,

exato — nem lento, nem rápido —

contato preciso ocorrido,

calor, força e intensidade.

 

Que se prolongue lentamente,

se houver tempo para a recuperação

do fôlego e da respiração,

e que parta com proveito.

 

Que se tenha tempo de sentir

o cheiro fresco no ar,

o sopro da vida do outro

que em nós fique.

 

Que se demore

em cada passo o eterno,

respeitado na precisão

de ser lembrado na vida.

 

Sentindo tudo,

possa haver tempo

de vê-lo aos detalhes,

precisos guardados,

para entendê-lo por partes e inteiro,

no todo e em seus detalhes,

todo proveito.

 

Não se entenda como fácil

que gere em mim ansiedade,

sinal da verdade

e que tenha o valor devido.

 

De tanto é o querer que queime

com estática eletricidade,

contração involuntária e teimosa,

e cause, em ti, então, nervosismo.

 

Minúsculo trovão se veja,

deixando, assim, em imagem

de retenção, vendo-se o corpo

nervosamente dobrar, se rígido.

 

Na espera e em seu chegar,

contraído e retesado em execução,

e, mantendo-se assim,

após sua partida,

para estar, assim,

para sempre lembrado.


 

Entre Amor e Liberdade"

 

Que cores têm os pássaros

em seu voo noturno,

na noite que, como uma dama,

guarda segredo de tudo?

 

Não é a Liberdade

aquela dama

que não tem casa ou pertences.

 

Liberdade é aquela

senhora sem ninguém;

se não tiver paradeiro,

quem de você pertence

em seu momento derradeiro?

 

Como se ligar a alguém livre,

a quem não se pode deter

pelo paradigma

que deixará de ser?

 

Só pode-se amar a liberdade,

mas não se pode desejar

ser seu parceiro.

 

Será amor platônico,

amor para a vida toda,

amor de maluco

de coração atônico?

 

Há quem não precise de alguém,

que não queira prender-se a outro alguém,

por também querer abdicar

da própria liberdade,

por também amar

e querer ficar.

 

Só a liberdade não pode,

pois o nada dela pode ser eterno;

pois correr atrás de pássaros

em revoada,

sem jamais poder

vislumbrar a chegada,

 

é estar preso a liberdade

— estar preso onde sempre

não se quer chegar.

 

Assim, a deusa da liberdade sabe

que todos, para serem completos,

têm que transitar

por suas praias e partir;

 

os que ficarem livres

nada de sólido irão construir,

pois lhes falta a razão maior,

que é a razão do fim

na própria liberdade,

que deseja livre transitar

além da perda

e amar só a si mesma,

na liberdade de não amar.

 


 

O Amor e a Esperança

 

A esperança gera amor?

Ou é o amor que gera esperança?

Amor que nem tem por que,

provavelmente nem tem onde.

Quando, e como, então, para quê?

 

Amar é assim irracional;

tudo tem a ver com o animal,

até que vira verdade.

E então passa a ser ciência—

quem sabe dessa loucura.

 

"Amor nem existe", dizem;

é só uma figura inventada

para “desinventar” a dor.

Bem, eu sou maluco?

Então, que seja de fato.

 

O amor é ciência, como ato

que nasce de conhecer,

e assim se autogerando

ou desaparece.

 

Se for, é sempre de verdade,

mesmo que o porquê

ainda não se entenda.

 

Eu te amo.

Eu te conheço

de uma forma alucinada;

não por ser ilusão,

mas por ser uma verdade tão imensa

que parece mentira.

 

 


 

Porque amei

Se é verdadeiro,

meu entendimento

sobre o eu

e sobre o meu tormento.

 

De quem sou e do que foi.

Se for possível a um humano ter

tal entendimento, como foi?

 

Então, estou mais perto,

sem haver braços abertos;

pois não sou mais —

o eu passou e se foi.

 

O que sobrou é só o amor,

mesmo que magoado,

destruído e transformado.

 

Foi com o ser amado,

por culpa ou não.

O que é o amor, com ou sem o "não",

senão empatia, entendimento e perdão?

 


 

O Amor de Fato

 

O amor só tem valor

e existe de fato

aquele que há no teu peito.

 

Todo o resto

pode ser qualquer coisa,

pode até ter-se respeito,

mas não é amor

se, na verdade,

não está no teu próprio peito.

 

E tem mais:

do amor não se dúvida,

pois o amor de fato

é só aquele

que guardamos

mesmo calados.

 

O amor do outro

pode haver ou não;

pode ser mentira

ou só um devaneio.

Diferente do amor

que rasga o teu peito ao meio,

desse não se tem dívidas.

 


 

Depois do Amor

 

Agora que se sabe

o que é amar,

transcenda esse amor

em algo que se venda,

algo que convença.

 

Faça dele algo maior,

o que vença o tempo

em gestos através da arte.

 

Ou aprenda e deixe

que a vida passe,

com ou sem deleite,

porque até isso

também faz parte.

 

Porque todo homem,

quando ama, é poeta,

mas nem toda poesia

é arte de todos os homens.

 

Tem gente que precisa

de outras coisas

mais concretas.

 


 

O Meu Amor

 

Temo por essa geração,

pela minha e pela próxima.

Vivo um dilema

entre ser como sou

ou ser um com esse tempo.

 

Como ecoar um sentimento

em minhas linhas,

não presente no meu coração?

Seriam linhas, mas não as minhas.

 

Estamos nos dias dos poetas falidos,

de um amor consumista,

das coisas feitas com a angústia

de sua face materialista.

 

O amor, em sua forma perfeita,

é mais entendido

como o nome de uma flor

do que como um conceito.

 

Ser um mártir do próprio amor

é ser tratado com despeito

por aqueles que não entendem

do amor em pleito.

 

O amor é tão grandioso

e o tratam como abstrato,

qualquer coisa vã,

uma coisa que se come

mesmo se não houver fome.

 

Confundem o amor

com um prato gourmet

de frutas selecionadas, perfeitas,

geneticamente modificadas.

Meu Deus!

Eles não entendem de nada.

 

Amar de verdade

é um sentimento endógeno,

extraído de um conhecer profundo.

Reconhecer o outro como único,

dono do meu interesse — não

meu maior interesse no mundo.

 

Isso é amar.

É prazer esse ser para dentro,

tão fundo no pensamento,

que, depois de um tempo,

esse amor sou eu sorrindo,

sem lamento.

 


 

Amor Pequeno Não Existe

 

O amor

jamais suportaria

ser insignificante.

 

Para o amor,

não há explicação,

mas, se houvesse,

ela nem seria importante.

 

Amor de verdade

traz consigo

seu próprio significado,

impregnando tudo,

garantindo que

nada esteja errado.

 


 

O Motorista De Fuga

 

Hoje, Jeffinho faz 44 anos,

nascido em 1966, em Apucarana, PR,

se bem me lembro e não me engano.

Descendente de japoneses,

aos 16 anos mudou-se para Curitiba,

ele e seu primo, também um grande amigo.

 

Vieram morar com a irmã.

Foi ali, em sua república de estudantes,

onde eu os conheci.

 

Extrovertido e de bem com a vida,

muito simpático e divertido,

sempre cheio de ideias

e possuidor de grande disposição

para executá-las — todas elas.

 

Protagonista de mil aventuras,

de ver o sol nascer em uma praça,

as bebedeiras e ficar de bobeira,

ter amigos e companheiros.

 

Nas madrugadas, ele era

o nosso motorista de fuga.

Sempre em segurança

levava-nos para casa,

quando não íamos de bondão,

o que, em turma, também era bom.

 

Eu devo-lhe, mil vezes, a minha vida.

Estou escrevendo a essa altura,

pois gostaria que todos o conhecessem.

O mundo fica muito melhor

com ele nas histórias,

e vocês estão sabendo agora.

 

Se eu pudesse dobrar o tempo

e trazer novamente o passado

ao tempo presente,

a vida, com certeza, pareceria diferente.

 

Nada é mais como era,

eu não sei onde nada mais fica.

Eu me sinto como o vampiro

que não entende a luz elétrica.

 

Ainda sonho em ter

a chance de fazer a diferença,

mas começo a perder a paciência.

 


 

Morrer de Amor II

 

Você acha que amar

e demonstrar amor é simples?

Eu já acho que não.

 

Se morre de amor por mim,

então me coloque forte

na sua vida.

 

Da sua morte, eu abro mão.

Quero ver o que fará

com o peso de um amor

apertando o coração.

 

Se esse for o seu sentimento,

vamos ver de verdade.

Se for amor, então…

 

Amor de verdade

é vida, não é morte.

Então, sendo assim,

tenha a bondade de despertar

para seguir adiante,

vivendo como quem ama —

de fato.

 


 

O Lado Escuro da Lua

 

Quem sabe do valor de um amor

é só o verdadeiro amante.

Mas não é de qualquer amor

que eu falo —

apenas do amor de verdade.

 

Os amores pretensos

são propensos ao desastre,

como tudo que é malfeito,

errado e com defeito.

 

E, quando dele mais se depende,

é nessa hora

que o verá desfeito.

 

O amor de verdade,

diferente desse amor grotesco,

é impossível que descole da alma.

 

Ficará lá para sempre,

mesmo que seja

escondido e jamais visto,

no lado escuro da lua,

onde sua alma pousa

para o infinito,

repousando nua.

 

Quem me vê passar somente

jamais saberá da minha vida,

do que meu coração cansado sente

e de como cicatrizou suas feridas.

 

O amor não precisa de propaganda,

só precisa de mais amor

e de acertar o caminho

por onde anda.

É Amar

 

Minha vida

consome-se em escrever,

mas como poderia eu parar

depois de entender

que escrever poesia é amar,

e amar é compreender?

 


 

A Criança e o Amor

 

Quando eu era criança,

pensava como criança

e agia como criança.

 

Hoje, não sou mais criança

e sei bem a diferença

entre adultos e crianças.

 

O adulto entende

que o amor não é ter;

são respostas e suas responsabilidades.

Amar, assim, é conhecer.

 

A criança ama

só querendo tudo do ser amado.

Isso não é amar,

mas também não chega a estar errado.

 

O adulto ama

como quem cuida.

Mas essa não é a única diferença

entre adultos e crianças.

 

A criança confunde amar

com ser amado.

Cega, não se pergunta:

"Quem eu amo?"

 

Como se não fizesse diferença…

O que, na verdade,

é só o que importa

e faz toda a diferença.

 


 

No Que Te Prende

 

Não se ensina alguém a voar.

Só se pode voar

e esperar que venham

os que podem te acompanhar.

 

Posso te carregar em um voo,

levar-te em um passeio,

tirar da tua mente

algo por um momento.

 

Mas não posso fazer

você se libertar

daquilo a que se prende

e que não te deixa voar.

 


 

Do Bem ao Amor

 

O bem é só o bem,

não é moeda de troca.

É apenas o correto,

sendo o que dará certo.

 

Quando se sai da frente

de um carro em movimento,

você está fazendo o bem

a si mesmo e ao condutor

do carro também.

 

Nunca, nem ninguém,

deveria esperar uma medalha

por ter feito algo

que, não feito,

seria sua falha.

 

Nós somos assim,

queremos preencher o vazio

que só existe dentro de nós

com qualquer coisa chinfrim.

 

Para a alma,

nada se resolve assim.

Dentro dela,

só cabe aquilo que se ama.

 

Elogios e agrados são bons,

eu os agradeço de bom grado.

Mas dentro da alma

fica somente

tudo o que já tinha seu lugar.

 

Amar, na verdade, não é achar,

é apenas reconhecer e guardar.


 

Ilógico Amor

 

O amor mais lindo,

o mais verdadeiro,

é por aquilo que te é inútil

e que, por isso, será infinito.

 

E, mesmo assim,

esse amor impossível,

se simplesmente

não tivesse acontecido,

perdê-lo seria impensável.

 

Quem tem a sabedoria

para enxergar

o amor incrustado

no que te é inútil,

mas que não se faz ignorado?

 

A lógica se sobrepõe,

e a realidade se faz presente,

mas a felicidade, não.

 

Apesar de tudo,

do que era esperado e lógico,

ela não está presente.

Por razão nenhuma,

simplesmente está ausente.

 


 

Depois dos Teus Olhos

 

O que poderia se fazer

depois que teus olhos viram,

no fundo dos meus olhos,

uma alma comovida?

 

Você levantou a cabeça,

de forma quase cínica, e partiu.

 

De todos os modos possíveis

de partir, você partiu.

E, mesmo assim, partido,

essa alma comovida

ainda teve tempo de procurar razões

nas lembranças dos teus olhos,

sem desculpas.

 

Como se aquele que fere

precisasse de ajuda,

e esse permanecesse atento,

mas agora de forma muda,

como se o impossível

pudesse ter a sua hora.

 

Mesmo que fosse o nunca

o lugar do seu agora,

esse tempo lento do nunca

fazendo-se de sustento

no que não seria.

 

A vida não entendeu a perfeição

e passou sem ver o seu lugar,

como não poderia ser,

caso o homem fosse perfeito —

mas não é.

 

Consciente disso,

do que seria perfeito,

mas se fez impossível,

só resta criar a paz

em algum lugar perdido

entre o mundo e o impossível.

 

Olhar dentro do meu abrigo,

sem entendê-lo como prisão,

e procurar, no próprio zelo,

minha forma de amar,

sem nunca tê-la perdido,

para que seja possível

novamente amar, amar e amar.

 


 

O Amor sem Limites

 

O amor, na verdade,

não conhece limites.

O que tem limite

é o orgulho e a coragem,

mas esses

nada têm a ver com o amor.

 

O amor é ilimitado,

mas o amante, não.

O limite do amante

é o dever que ele tem

de só fazer o bem.

 

Mas, como somos humanos,

nem isso, com certeza, é certo,

pois, mesmo amando, pode-se errar,

e, estando errado,

pode-se persistir em um engano.

 

Até no que é mais importante,

o ser humano pode estar errado

e passar a vida culpando o outro,

mesmo sendo ele o único culpado.

 

O amor é perfeito,

mas eu e quem amo

somos só humanos,

e, assim, mesmo amando,

podemos continuar errando.

 


 

O Destino Não se Engana

 

Eu raramente penso em Deus,

ele já pensou tudo por mim.

Agora chegou a minha vez:

achar os caminhos meus,

onde ele já deixou escrito

tudo, em um destino que se fez.

 

Cada um faz a sua parte —

ele, no eterno infinito,

e eu, aqui, no meu melhor em arte.

Escrevendo, mas só vendo,

depois, o que ele já tinha dito.

 

Seu caminho está bem claro,

mas, muitas vezes, não é fácil

viver neste mundo humano.

 

Seguindo um plano

que foi traçado sem enganos,

como se o homem que ama

não entendesse nada errado.

 


 

O Amor é Louco

 

Essa desgraça de amor,

quem é que vai entender?

É fogo quando é fome,

vive e cresce

onde há o calor da combustão

daqueles que se consomem.

 

Ao mesmo tempo,

sendo assim,

o amor é água:

não é quente nem gelada.

 

É razão de se crescer,

mas pode ser muita

e, ao invés de tratar e acolher,

corre-se o risco de sufocar,

de cobrir e afogar.

 

Assim é o amante:

quer consumir e digerir,

e, ao mesmo tempo,

acolhe e protege.

 

Acalenta e cuida

daquilo que deseja consumir

de forma desregrada.

Só que não o faz por medo,

pois sabe que, sem ela,

não lhe sobraria nada.

 

O amor é louco,

e, como já foi provado,

só pode ser entendido

por outro louco,

que, perdido, acha-se apaixonado.


 

O Urro do Silêncio

 

O que o silêncio te diz

é confuso?

 

Quando o silêncio nos afeta,

é mais vocativo

que um urro ou um berro,

mais horrível que um grito.

 

Ninguém entende o grito —

não é esse o seu intento.

O urro pede atenção,

assim como o silêncio.

 

Que não diz nada, porém,

faz-se entender como um alerta,

e assim compreendemos

o que fazer na hora certa.

 

Agora, quando o silêncio

ecoa no surdo…

quem não entende o teu silêncio

não quer o teu amor.

 

Nada diz, nada faz —

é só o vazio que se propaga.

A culpa não é do silêncio,

é do vazio, é de ninguém.

Onde deveria haver amor,

nada havendo, só sobra a dor.

 


 

O Dom

 

Os que dizem não gostar de poesia,

intitulam-se céticos e materialistas.

Eles podem negar,

mas todos amam a poesia.

 

O que eles dizem é mentira,

fugindo na busca por razões,

explicações matemáticas,

todas as coisas práticas.

Perdida na arte,

está a emoção.

 

Entender isso é ter um dom.

A verdade é que a poesia

está entremeada

em tudo o que há de bom.

 


 

É Amor Sem Ser

 

Quero ser romântico,

mas sem ser forçado,

com seriedade,

amar e dizer a verdade.

 

Confundem amor com muitas coisas.

O que mais se assemelha a ele é o sexo,

pois não deixa de ser amor,

sem na verdade ser.

 

O sexo fala de nós,

conta muito sem dizer —

o que se passa escondido

entre desejos e sentidos,

entre medos e rancores,

nas nossas verdades

e nas nossas falsidades.

 

O orgasmo, então, é dissolução.

Quando vencidos,

fazemo-nos perdidos

e, resolutos, admitimos

até o errado como certo,

porque entender é complicado.

 

E, apesar de tudo isso,

como se poderia dizer?

Tudo isso é amor, mas não é.

E todo esse amor…

é amor sem ser.


 

Amar em Espelho

 

Você não repara

que é erro comum

ser dono de um sentimento

e colocá-lo como lamento

em outro coração adentro?

 

O outro é aquele

que, na verdade,

é só um espelho

da sua bondade.

 

Quem exige

do amor reciprocidade

pode ser dono de si,

mas não entende.

 

Entenderá, da pior maneira,

o que é amar a saudade.

 


 

O Amor Diamante

 

Dizem que o amor é frágil

como um pássaro:

se apertar, ele morre;

se soltar, ele foge.

 

Eu não sei que amor é esse,

pois, para mim, isso é posse.

O amor de verdade não é nada disso,

e nada mais tem a ver com isso.

 

Para mim, isso é comodidade —

um bom emprego, um legado,

um acordo a ser honrado.

 

Amor de verdade é inconveniente.

Amor verdadeiro é inquestionável,

ininterrupto e não intermitente.

 

Nos dá razões para irmos,

mas ficamos, se for preciso.

Ou vamos, não por querermos,

mas para libertarmos

a quem somos cativos.

 

É dono da melhor parte da nossa alma.

E, mesmo que não tenha entendido,

deixou para trás um coração,

para sempre marcado e mordido.

 

Ferido, mas dono de um amor indestrutível,

de lembranças guardadas,

como se fôssemos crianças.


 

O Amor no Infinitivo

 

O amor morreu,

mas só foi o teu,

que nunca nasceu.

 

O amor amado é a lagarta,

que, frente à adversidade,

se transformou em crisálida.

 

E assim, a crisálida

transcende a humanidade

e, ao tornar-se borboleta,

encanta as crianças,

mostrando como é belo amar.

 

Que estas, pequenas,

no seu devido tempo,

aprendam a amar sincero,

como sempre deveria ser

o que era de se esperar.

 

Porque o amor só existe

naquilo que ele é:

verbo e movimento,

um sentimento e ação.

 

Como o meu eu, criança,

ainda espera que ele seja,

o amor, como verbo no infinitivo,

só pertence a quem sabe amar.

 


 

O Teu Sangue

 

Das minhas feridas,

ainda verte sangue.

Eu estou vivo.

 

Das veias de um cadáver,

ou nada sai,

ou escorre apenas

um líquido negro —

coágulo liquefeito.

 

Fomos feitos para viver,

e, na vida, acidentes ocorrerão.

Os ferimentos se curarão,

e isso nem será um acontecimento.

 

Sempre lembramos de nossas feridas,

mas o importante é estar vivo

e saber que sangrar é possível.

 

Sangre pelos motivos certos.

Faça as coisas

pelas quais você sangraria,

pois o resto é só porcaria.

 

Deixe de falsidade,

vem abraçar a realidade.

Saia das velhas telas do cinema,

trave suas lutas e faça suas escolhas

por quem vale a pena sangrar.

Pois é isso que vale a pena.

 


 

O Amor é Prisioneiro

 

O amor verdadeiro nos atinge

por completo e por inteiro,

não escolhe alvo.

A bala da arma é menor

que o dano que inflige.

 

E nós, uma vez amantes,

somos, todo e por inteiro,

desse nosso amor,

muito mais que prisioneiros.

 

Dele, somos a prisão.

Em nós, esse amor se faz recluso,

e de nós, ele é vítima

de todo tipo de abuso.

 

Da minuciosa invasão

da própria privacidade,

em investigação detalhada,

 

à nossa própria alma,

que se faz refletida

naquilo que amamos

e mais queremos.

 

Dizem que amor não aprisiona —

laudos ignorantes em desamor.

O amor aprisiona, sim,

e, mesmo assim, emociona,

fazendo feliz.

 

Mas não o amado,

aprisiona o amante,

preso em voluntariado,

mas feliz e contente.

 

O amor é sempre prisioneiro.

E, se verdadeiro,

será feliz e derradeiro.

 

Prisioneiro no peito escravizado,

que o guarda amante e apaixonado.


 

Todo Amor é Traidor

 

O amor, de fato,

é uma traição

que faço na relação

minha comigo mesmo.

 

Amar alguém

é trair o próprio ego.

 

É trair a sua essência,

ao querer ser maior

na própria ausência.

 

Amar, de fato,

é trair quem você é,

para colocar em seu lugar

o amor que você quer.

 

Eu achava que me amava,

mas conheci alguém

que me fez ver —

não como sou,

mas como eu queria ser.

 


 

VULGAR

 

Quando sem amor,

ainda temos um ideal.

Nos apegamos à beleza,

tentando ocupar com o belo

o lugar da grandeza.

 

O reflexo da nossa humanidade

sonha ter uma alma

e justificar o tempo perdido

diante do que é infinito.

Essa perfeição nos oprime.

 

Então, na existência,

na falta de um amor real,

colocamos o que temos: um ideal.

Somos humanos — e nada mais.

 

Com o tempo, percebe-se

que qualquer coisa,

sem amor presente,

é tão somente vulgar.

 


 

Nada

 

Hoje, eu não sinto nada.

Da última vez que amei,

de forma desesperada, amei.

Mas, ao partir-se, meu coração,

microscopicamente dilacerado,

evaporou... sobrou...

 

N

   A

     D

       A

 

O pior nessa desilusão

foi o mau gosto da realidade.

O amargo do desamor

empalideceu as papilas gustativas,

tornou a vida insípida.

 

Contrastando com outrora,

que era vivo e colorido,

não tem mais nenhum sentido.

 

Olhos que vislumbraram

o horizonte em luzes,

sonhos em auroras boreais,

marginais momentos mágicos.

 

O pior desse desamor

é que endureceu as veias.

Pois não há mais coração,

só a dor e a realidade.

 

Ele se foi no vento da maldade.

A escolha de não amar

destruiu o que havia de sagrado,

mesmo que não tenha sido errado.

O mundo agora jaz soterrado,

incrédulo de sua essência,

perdido na própria existência.

 

O que sobrou da pureza

foi um mundo em preto e branco.

Matam a bondade e a beleza.

 

Eles se foram, trocados por infinitos

tons de cinza queimado.

E onde antes havia luz e cor,

tudo foi corrompido, contaminado.

 

Reclamar da vida, reclamar.

A verdade, a existência.

Sem razão e sem motivo.

Só vivemos — e estamos perdidos.

 

O que é o inferno, senão

um lugar de desamor,

preso em nós, por um motivo perdido?

Onde o amor vive irreconhecível,

e os autômatos de Metrópolis

são agora mais humanos que nós.

 


 

O Calvário do Poeta

 

Depois de tanto escrever,

por vezes, eu peco.

É quando sofro um elogio.

Curioso, eu pergunto,

e muitas vezes não me vejo feliz.

 

Talvez um pouco,

mas não totalmente.

Mesmo que, para o leitor,

que acredita entender,

aplaudindo de pé,

esse mereça, sem dúvida,

o meu sorriso e minha reverência.

 

Mesmo que, para ser poema,

não se careça de entendimento —

basta causar lembrança

e um sentimento.

 

O derrotado sempre sou eu.

Se o autor redigiu

e o leitor não entendeu,

quem está errado

é somente aquele que escreveu.

 


 

Na Vida o Que Vale

 

O que a vida quer da gente

é comprometimento verdadeiro.

Cicatriz na carne feita por navalha,

não por dever ou por ser certo,

ou por qualquer outra coisa

que se equivalha.

 

O que a vida requer

é que algo valha a dor,

que justifique o sofrimento.

Pois, na vida, sempre há sofrer.

 

De uma maneira ou de outra,

na presença ou na ausência,

no muito e no pouco,

no tudo e no nada,

na dor e no prazer.

 

Não é o maior prazer

que leva à maior das dores.

 

Assim, só há como se justificar

essa e tanta vida

se houver amores.

 

Se não, só há purgatório.

O amor é a única coisa

que traz a alma em flor.

 


 

O Satélite

 

O homem tem, na alma,

o mundo todo.

A consciência é apenas

um pequeno satélite artificial,

em uma órbita rápida e baixa,

que, para alguns,

parece ser estacionária.

 

Quando nossas lentes convergentes

detêm-se em um ponto,

esquecemo-nos de todo o resto.

E, nessa ocasião,

temos a forte impressão

de que aquilo em foco

é o mundo por inteiro.

 

Com o tempo,

essa jovem consciência

vai guardando impressões

e construindo uma imagem maior.

Mas, limitada à sua órbita,

por maior que seja,

sempre será restrita.

 

Quando um satélite se perde

por mau funcionamento,

dada a solidão do sistema,

ao focar outro planeta distante,

poderá entender melhor

as imagens dos seus próprios problemas.

 

Ao encontrar outro lugar,

em outro planeta qualquer,

e chamá-lo de seu,

esse novo mundo distante,

no qual nos espelhamos,

tornar-se-á o lugar

onde um satélite artificial

desejaria orbitar.

 

Talvez assim possamos estender,

através da ciência,

o entendimento sobre

como se forma o amor

e como nasce a consciência.

 


 

O Teu Silêncio

 

Faça do teu silêncio

o mais elegante movimento.

E, se visto como argumento,

lembre-se: ele só afeta, de fato,

aqueles que por você

guardam sentimentos.

 

Que sejam estas letras

a tua verdadeira resposta,

para guardá-la do tempo,

e que esses teus momentos

sejam o tesouro de todos

os teus bons sentimentos.

 

Não existam em razão da sedução,

que se faz em conquista,

mas nem sempre é boa,

quando existe somente

para o teu próprio proveito.

 

Podem ser contados

como um feito,

no orgulho do momento,

mas, se não houver amor,

perder-se-ão no tempo.

 

Assim será

com tudo o mais

que não for razão

para ficar e ser maior.

 

Passarão como o tempo,

e como toda dor,

que, na verdade,

é diferente da dor do amor,

que não passa,

mesmo sendo dor.

 

Não seja, então,

a razão de uma desgraça,

de uma dor que não passa.

Use essa arma somente

quando o prazer que almeja

ancorar-se em um amor

que realmente deseja.

 


 

2. Poemas sobre Memória, Passado e Reflexão


 

Queria Te Ver Sorrir

 

Queria te ver sorrir

ao me ver sorrir.

Para você.

Tudo para você.

 

Queria ser importante,

como você é para mim.

Mas não!

Não há querer —

somente ser.

 

Para você, fui só

um pedaço de carne,

bem tratado,

como tratei tantos outros

antes de você.

 

Hoje eu sei como dói.

Como dói ter algo de bom

e perder.

 

Como dói

não ser bom o suficiente.

O coração, invertendo tudo,

faz com que seja ainda pior.

 

Como é duro

não ser autossuficiente.

Como é duro

não ser bom o suficiente.

 


 

Passado e Limpo

 

Como saber se alguém já amou?

Se amou, ainda ama.

Se não ama,

de que adianta o argumento?

 

Impossível!

Alguém que diz que já amou

nunca amou de verdade

ou se expressa muito mal.

 

O verbo amar

não suporta o passado.

Amor de verdade

é sempre presente.

 

Amar não se conjuga no passado.

Se passou, não era amor.

Era outra coisa distinta

ou até parecida:

desejo, poder, prazer.

 

O amor, na verdade, não passa.

Ele só ganha maturidade.

Mas como saber se foi amor,

quando ele simplesmente

e na verdade não passa.

 


 

Esquecimento

 

Será que você me esqueceu?

Sim ou não?

E, se sim, foi em vão?

E, se não,

de que adianta

não ser nunca esquecido,

mas também não ser o escolhido?

 

Erros humanos

estarão presentes na eternidade?

Não, acho que não.

Então, se irão,

esquecidos no tempo?

Ou, na eternidade,

serão redimidos?

 


 

Memória e História

 

Tudo o que nos passa

tem seu sentimento belo,

mas só segue em frente

aquilo que se quer guardar,

não o que se deseja esquecer

para seguir adiante.

 

O lugar das memórias ruins

não é no álbum de família,

nem em canções de toda hora,

mas nos museus

ou nos livros de história.

 

E assim seguimos,

caminhando e enfrentando.

Dos fatos que nos moldam,

seja pela força ou pela beleza,

o que permanece

vira história,

o que nos toca

torna-se memória.


 

O Grande Boneco de Lego

 

Não ser amado

pelas razões certas

também é uma tristeza.

 

Mas ela não é sentida,

pois fica encoberta

por uma sensação

de barriga cheia,

que a disfarça e conserta.

 

Quando entendemos a verdade,

isso nos desconcerta.

E tudo muda,

simplesmente porque

não estava certo.

 

Depois desse tempo de anestesia,

começamos a nos lembrar

das sensações estranhas que tínhamos.

E as coisas vão se encaixando...

Ou melhor, desencaixando.

 

O futuro também nos desmonta.

A alma humana é como um brinquedo

de montar, sem soldas.

 

A certa altura da vida,

achamo-nos enormes,

fortes, intocáveis, indestrutíveis.

Até que percebemos:

somos apenas

pequenos fragmentos de ego,

como um grande boneco de Lego.

 

Basta a tração certa,

no local errado,

e tudo o que parecia firme e forte

se desmonta em pequenas partes.

 

Um grande monte de peças,

que, quando caem de nós,

para nada mais servem.

 


 

O Fim

 

O fim é o ponto comum

que toca todas as vidas.

São momentos especiais:

a chegada e a partida.

 

Pior que um caminho sem volta

é um destino sem ida.

Reconhecemos algo

ao olhar o que ele tem em comum

com o resto da nossa vida.

 

Porém, certas coisas são ímpares,

perdidas no tempo e na lembrança.

Existem, atemporais e sem lugar,

não há nada com que possam combinar.

 

Não se parecem com nada

em nossa memória.

Às vezes, nem as entendemos,

nem as explicamos por completo,

tratamo-las por instinto.

 

Como todo momento

é preparação para o seguinte,

nascer nos ensina a morrer,

e amar nos ensina a perder.

 

Vou tratá-la como um sonho,

pois é isso que é o passado.

Assim como o futuro,

dando certo ou errado,

fica melhor

quando não está todo amarrado.

 


 

Histórias

 

Gosto do que é belo

e escrevo poemas de amor,

não apenas poesias

soturnas e fatalistas.

 

Mesmo que, por vezes,

eu seja um pessimista,

de maneira explícita.

 

Gosto de Augusto dos Anjos,

ele é, sim, um genial poeta,

mas era um desiludido.

 

Eu, ao contrário, sou um sonhador.

Apesar de parecermos tristes,

eu ainda creio no amor.

 


 

A Prece dos Animais

 

Senhor Deus,

livrai-nos do mal humano.

 

Somos apenas animais,

e ainda assim,

somos menos feras que os homens.

 

Senhor!

Matamos para nos livrar

da dor que é a fome.

Matamos sem desejo de punir,

sem infligir dor maior

a outro ser vivo.

 

Senhor, jamais cerceamos

a liberdade por prazer.

Ajudai-nos a escapar

desse cativeiro desumano.

 

Livrai-nos do jugo humano,

dessa besta fera.

O menos divino dos animais.

 


 

Inferno

 

Alguém sabe por que

uma alma não deixa o inferno?

Simplesmente porque

não quer.

 

Ela não consegue ver

que está presa no vício

da própria pobreza.

 

Ela não entende o mundo

de outra forma,

além do que vê à sua frente.

Não há saída do inferno

enquanto não se fizer diferente.

 

E aquela dor que se carrega,

não é ela o inferno.

A dor é só um aviso

de um erro no caminho.

 

A dor, que tanto se amaldiçoa,

é, na verdade,

a única esperança.

É ela que pode livrar do inferno

essa alma de criança.

 


 

Na Guerra

 

Uma vez, assisti a um bom filme.

Um herói em meio à guerra,

que, em sua luta,

usou as mesmas artimanhas

com que caçava em sua terra

para trazer comida à mesa.

 

Isso provocou risadas na plateia,

que, naquele instante,

mostrou sua verdadeira face

e o rumo de suas ideias.

 

Tratar seres humanos

como animais

parece certo —

até cômico,

em situações especiais.

 

E mais uma vez,

provamos quem somos:

muito menos

do que gostaríamos de ser.

 

A humanidade, no fim,

é apenas uma raça de animal

que, brincando de civilização,

se fantasia de gente.

 


 

O Retrato

 

O que quer com um retrato?

O que quer, de fato?

É só mais uma foto,

como tantas outras.

 

Se perder em uma multidão

é sentir a mesma solidão

de quem está só.

 


 

Perda de Tempo

 

Gostaria de ser tão dono de mim

quanto você é dona do meu querer.

Você existe na minha saudade,

que me emociona e arde,

em sua chama fria,

todos os dias.

 

Quase tudo o que é malfeito

tem solução,

mas a falta de amor...

como poderia ser refeita?

 

Só a falta de amor

não tem jeito.

Nunca será mais do que é:

uma grande perda de tempo.

 


 

O Sol Me Ofusca

 

Você, diante do sol, quase some.

O brilho apaga tua silhueta,

e, se não fosse tua voz,

eu não saberia quem é.

 

Ecos e sons do mar

se desfazem em ondas.

O vento, em silêncio,

esfria meu corpo quente

do calor na areia.

 

Respiro fundo

e sinto meu próprio respirar,

como se o comum

fosse algo especial.

 

Mas especial é todo o resto:

o mar, o sol, a praia,

o vento, o calor e o sal.

 

Respirar e estar aqui

parece nada demais —

mas se faz raro,

quando tudo se combina

com o agora

e com a vida.

 

O sol me faz lembrar

o tempo em que se fez sonhar.

Agora, ele ainda aquece

as mesmas praias,

a mesma areia,

e faz ventar.

 

Eu ainda vou sonhando.

Será possível esquecer

os sonhos de outros dias?

 

Eles ainda me fariam sorrir,

os mesmos sonhos,

apesar de parecerem

sonhos de outras vidas.

 


 

 

3. Poemas sobre Filosofia, Existência e Reflexão Profunda


 

Poesia Intranquila

 

Poesia é uma fritadeira —

faz-se e se tem,

com o sentimento

fritando dentro da gente.

 

Dando certo ou errado,

no presente ou no passado,

se verdadeiro,

ele fica por inteiro.

 

O poeta não vira a página,

e, se vira, ela não muda —

mas nos muda.

Mesmo que mudo,

o poeta tem a vida desnuda.

 

Mas não é isso

que faz com que ela nos transforme.

É algo maior,

que vem de dentro:

o reconhecer e aceitar

o que há para se amar.

 


 

Mais do que é Possível

 

Amar alguém

mais do que é possível,

se não for impossível,

de fato,

 

Talvez deva ser

um ato insano,

um delírio breve

de um ser insensato.


 

Releitura

 

Escrevemos como vivemos:

sempre no presente momento,

com o nosso ego em mente.

 

Escolhemos, querendo

que seja para sempre.

Não vemos,

querendo acreditar

que nada irá mudar.

Escrevemos, querendo ser eternos.

Dizemos: foi dito, está escrito.

 

Mas existe a hora

de reler e reescrever.

Porque esquecemos,

naquele momento,

sobre o que escrevemos.

 

Esquecemos que,

o que escrevemos fica.

Todo o resto muda.

 

Esquecemos, naquela hora

em que escrevemos,

que pode não ser o futuro

como é o agora.

 


 

Memória

 

O que separa

os homens das máquinas

é a capacidade de lembrar

e as nossas taras.

 

Nossas memórias ainda são

colocadas, mas não retiradas.

Podem ser esquecidas,

mas não apagadas.

 

Não somem

quando nos desligamos.

Não podemos dar um "boot"

e ficar com o pensamento zerado.

 

Tem vezes que eu me pergunto:

por que não?

Às vezes, me pego querendo…

até que seria bom

dar uma apagada.

 

Com tanta dor e tanta desilusão,

poderíamos voltar a acreditar.

Mas não—

deixa como está.

 

Esses espinhos na nossa carne

fazem com que não caiamos

nos mesmos enganos.

 

Não… nós caímos,

mas só nas que amamos.


 

Robin Williams

 

Morreu alguém que eu amava,

pelo que dizia, sempre sorrindo,

enquanto falava.

 

O conheci quando falou

de igualdade e tolerância,

gritando "bom dia" no rádio,

em meio a uma guerra.

 

O vi fraco e sem graça,

traído pela esposa,

amado pelos filhos,

infantil, atormentado.

 

Viveu um amor terno

onde nem se acredita em amor.

Morreu e o céu abandonou;

buscou no inferno o amor eterno,

venceu ao desistir de desistir.

 

Fez-se médico dedicado,

no cuidado, no amparo.

Amou o ser humano, preocupado,

com o ser e com o reparo,

atingiu a alma quando sorriu.

 

Nasceu máquina imortal,

boa e ingênua; evoluiu.

Tornou-se frágil, casou,

sofreu de amor e riu.

Se fez humano e belo... morreu.

 

Lembrança genial.

Engraçado cientista,

personagem infantil,

criador de uma goma viva.

Fazer rir—sempre sorriu.

 

Apaixonante professor,

terapeuta de gênios,

conhecia sua dor.

Também foi gênio que se foi,

abandonou tudo por amor.

 

Todo palhaço tem, por baixo

da maquiagem de sorriso,

um rosto triste e implacável.

O desespero em fazer sorrir

é antídoto do sofrer durável.

 

Assim, não serei triste

pelo solitário desfecho.

Como fim de filme que é drama,

a cortina se fechou.

Saudade, em lágrimas, se ama.

Foi só um show.

 

Que se confunda a verdade

com a arte, pois há arte na verdade.

Entender: em cada parte há o belo,

e o contrário também se faz.

Opção pelo belo é ter paz.


 

Personagem

 

Acordamos presos às nossas vidas.

O sentimento é guia e mestre,

um fato inegável.

 

Permanecemos ou mudamos.

Se, após mudarmos,

presos novamente estamos,

somos reféns das escolhas.

 

A vida é mutável,

sem situações perenes,

nem boas, nem más.

A vida muda,

mas como vivemos, não.

 

Envelhecemos.

Empregos terminam.

Carreiras acabam.

Filhos crescem.

Amores vivemos.

 

Personagem fixo,

primeira pessoa.

Sua história,

vilão ou herói,

viva com glória.

 

Seja digno de ser lido.

Seja você uma criança,

a sua fã.

 

Conte-a com orgulho.

Está na hora.

Volte a sonhar.

Reescreva a vida,

para ter o que contar.

Castelo

 

Eu tenho um castelo,

porque mostro quem sou.

O construí belo,

no alto e só.

 

Por que um castelo?

Por orgulho,

que disfarça o medo.

Trabalho belo.

 

Lindo, ele se ergue

sobre uma encosta

de rocha íngreme.

De torres em pontas,

que ao norte se precipitam

sobre o mar que risca.

 

Suas paredes,

como o mar e a noite,

escuras, escondem

a vista de todos,

os medos no medo,

expondo força do alto.

 

Na procura de perigo,

ao longe, ainda confundo

a vida da qual tenho abrigo.

Lá é seguro lugar,

às margens do precipício,

no meu erigido lar.


 

Portas Para O Céu

 

Em uma rua,

de uma cidade,

num país qualquer,

passava um homem,

não menos qualquer.

 

Olhou para uma porta,

negra e trancada,

de uma casa abandonada.

 

Como nele também,

lá era onde não morava nada.

E assim era,

no peito daquele homem.

 

Na escuridão daquela porta,

como naquela casa,

e no coração do homem,

sem dizer, sem chorar, sem nada,

uma alma existia, sem asas.

 

Mas, diferente daquela porta,

no meio daquela casa,

não havia um coração negro,

mas sim a esperança

de uma alma em ter asas,

e ser de homem íntegro e inteiro.

 

O que se fez no coração,

refletiu-se naquela casa,

marcou aquela porta

com o sorriso do homem,

que sonhou não ser mais abandonado.

 

Da luz que ele viu na porta,

reflexo do coração em nuvens,

de gente e vida encheu o sonho.

Esperança da alma e do homem,

que se fez em nuvem,

que fez o homem,

e que do céu choveu.

 


 

Ser o Presente

 

O bom amigo

não te pede desculpas,

não é preciso.

 

Só é preciso

querer se fazer presente

para te presentear

com um sorriso.

 

Não há nada a disser

mesmo que tudo

possa ser dito

não há nada que já não saiba

um verdadeiro amigo.

 


 

Na Caixa de Cristal

 

Parabéns a todos os poetas

que escrevem tão bem.

Não obstante, porém,

gostaria de perguntar: para quem?

 

Em um mundo de semianalfabetos,

escrever tão bem

é quase proibitivo,

apesar de sonhar

não estar aquém.

 

Sonho mais com muito menos.

Sonho em ser completamente simples,

claro e indecifrável,

flagrante e franco,

mas tão profundo

quanto a alma possa ser.

 

Quero a impossível perfeição

no que todos possam ler.

 

E que os que não entendem

não o façam apenas

por não decifrar as figuras,

mas por nunca terem sentido o que digo.

 

Pois posso contar e descrever,

mas não posso ensinar

a sentir —nem a ter.

 


 

Poemas e Verdades

 

Saudades das mentiras.

As mentiras,

mais lindas e inspiradoras.

Os poemas delirantes,

profundos e comoventes.

 

São sonhos.

Mentiras são mentiras.

Sonhos delirantes,

lindos e apaixonantes.

 

Pois mentiras poéticas,

mesmo que quiséssemos,

mesmo que apaixonadas,

não serão mais verdadeiras

por serem erros poéticos.

 

Para serem verdade,

precisam ser transformadas.

O amor ajuda,

mas, às vezes, não basta.

O sonho é um filho bastardo,

difícil de ser criado.

 

Os amantes seguem sonhando,

fingem que sonhos são verdades.

Loucos, delirantes por seus amados.

Quem sabe, um dia,

esse sonho, que é perdido,

possa ser realizado.

 


 

Reconhecemos no Respeito

 

Quem conhece o amor

tem cuidado

com o amor alheio,

a despeito de seus anseios.

 

O local onde dizem amar

a tudo e a todos...

É de lá que eu tenho medo.

É onde ninguém ama nada.

É só propaganda,

é para te atrair

e vender a coisa errada.

 

É assim que você reconhece

quem já amou de verdade:

quando se vê respeito

pelo amor alheio.

Só quem já sentiu a dor

respeita a dor em outro peito.

 


 

O HORIZONTE DE PAPEL

 

Finalmente, é a hora do poema.

Vou sair, levar a caneta para passear,

fazer linhas na folha em branco.

 

Adoro esses momentos:

a caneta ronronando no papel,

enquanto corre o pensamento.

 

Toda vez que eu quero poesia,

acabo abrindo o vidro da minha dor.

Hoje, quero que seja diferente.

Então, parei, fitando a folha em branco.

 

Respiro fundo e espero algum vento.

Vejo para onde sopra

a brisa de vida, que me leva.

 

Mas preciso ter cuidado

para não escorregar

dentro do vidro da saudade.

 

Então, olho o horizonte,

branco na folha de papel,

no limite entre o branco e o céu.

 

E lá, no futuro distante,

onde fujo da saudade,

olhando o horizonte,

persisto e sigo em frente.

 

Aproveito o ronronar

da caneta na folha de papel.

O azul-céu da minha caneta

é o limite do meu horizonte.

 

Hoje, quero deixar para trás,

mais uma vez, no horizonte de papel,

a saudade sufocada

no azul acinzentado do céu.

 

Quem vive de saudade

pode até ter amado,

mas é cego para o presente.

 

O desabrochar da aurora

ocorre sempre,

esteja você infeliz ou contente.

 

No horizonte de papel,

a aurora desenha um novo dia

com a tinta do tempo.

 

Mas, no fim, o horizonte…

não era só papel.

 

Pois, na luz distante,

a verdade contundente,

o amor recorrente,

a realidade existencialista,

os paradigmas racionais…

 

Todos convivem em mim,

em um jogo de quem pode mais.


 

 

 

 

4. Poemas sobre Natureza e Imagética Sensorial


 

No Campo De Violetas

 

Em um campo de flores roxas e lindas,

brotou uma Margarida.

Era um mar de lilases,

nasceu amarela, minha querida.

 

São tantas flores belas,

que brotam em violeta calma.

Mas só tenho olhos para ela,

destacada em amarelo,

em meio ao frio da alma.

 

Vênus, a estrela que brilha,

cor de banana madura e dourada.

Entre todas as cores, é ela

a mais quente,

a que desperta a fome encantada.

 

A rica cor com cara de doce,

em meio a tantas violetas,

é ela, amarela.

Não alimenta o corpo,

mas é como se

alimentasse a alma inteira.

 

O frio amargo daquela campina

era desejo.

Ela, amarela,

e minha boca, trêmula,

à espera do teu beijo.

 

É de se estranhar

que a cor da chama

mais quente seja azul.

Uma cor fria.

Mas no contraste do roxo com o amarelo,

os opostos se completam então.

Nuvens

 

Nem tudo que voa é pássaro.

Nem todo pássaro canta.

Todo pássaro tem asas,

mas nem todo pássaro voa.

 

Por incrível que pareça,

há pássaros que nadam.

 

Todo dia tem sol.

Pode não parecer,

escondido sob mil nuvens

ou sob a brancura da neve.

 

Mas todas elas, por mais densas,

sempre serão breves.


 

Papel Pardo

 

Nasci papel pardo,

desses de padaria mesmo,

que o padeiro enrola em tudo:

frios, doces, besteiras.

 

Nasci papel de pão,

mas meu coração

não sabia disso.

Queria ser maior,

queria mais que isso.

 

Eu não entendia.

Eu não esperava nada.

Triste, eu era só mais um perdido,

só queria ser amado.

Queria, mas achava

que não merecia.

 

Um dia, me levaram enrolado.

Abriram-me sobre a mesa,

prenderam-me com fita,

com todo cuidado.

 

Durante dias,

ia e vinha,

enrolava e esticava,

prendia e soltava.

 

Sobre minha face oculta,

foi surgindo uma figura:

preta sobre o fundo pardo,

detalhada depois

com um lápis branco.

 

Hoje, sou amado.

Exposto sob um vidro,

na parede, emoldurado.

Olham-me admirados.

 

Sou mais do que jamais sonhei.

Nasci papel de pão,

hoje sou um quadro,

emoldurado em exposição.


 

 

 

 

 

5. Poemas sobre Dor, Desilusão e Melancolia

 

 

 


 

Não Amar

 

Àquele que não sabe amar

cabe o mesmo destino

de quem nunca amou.

 

Mas quem não ama

tem uma alma pobre,

a ponto de não se importar,

egoísta demais para sentir.

 

Já quem amou errado

carrega um pesar,

não pelo que perdeu,

mas pelo vazio de um querer.

 

Sentir que teve,

mas não soube cultivar.

Perceber, tarde demais,

que o amor poderia ter crescido,

se apenas tivesse sido cuidado.


 

Auto Abandono

 

Às vezes, confundimo-nos

nesta vida de rumos trocados,

tomando por desejo

qualquer outra coisa.

 

Fugimos do que queremos,

tentando escapar de nós mesmos,

como se fosse possível

nos esquecer por completo.

 


 

Dramático o Amor

 

O amor é dramático,

ou é o homem

quem causa o drama?

Sempre fazemos dele

algo pouco pragmático.

 

Na minha alma, eu vejo,

quando calma e, apesar da dor,

o amor na saudade de um beijo.

O que seria de mim, amigo,

sem esse farol iluminando,

a quem assim eu sigo?

 

O que há no teu peito?

O que fez o teu amor?

Tirou dele algum proveito?

Mostra-me agora

quais os escombros que te formam,

ou só ficou enfileirado

com outros fantasmas,

ombro a ombro, mortificados?

 

Quem valoriza o amor precisa

fazer dele seu motivo,

nem que seja ele inciso.

Mas, sendo amor,

seja como for,

deve ser vivido.

 

 

 

6. Poemas sobre Superação e Esperança


 

A Solução da Vida

 

Onde está a solução da vida,

que corre à nossa frente,

sem perguntar nada,

esperando ser vivida?

 

Fica espreitando,

enquanto em patrulha,

às vezes nos encara

ao passar voando.

 

Aguarda uma resposta,

mesmo que em desalinho,

quer ser solucionada,

só aceitando se for amada.

 

Eu me pergunto:

quanto amor pode haver

em um só ser?

E, se houver amor verdadeiro,

a vida encontrará razão

em sua solução.

 

E depois disso,

depois de ter sentido

um amor tão grande,

o que sobra do indivíduo?

 

O que mais pode haver

como sentido da vida,

para ser vivido?

Mas a resposta nunca muda,

continua sendo tudo,

enquanto seguimos mudos.

 


 

Joia D’alma

 

Se tu estivesses aqui

para eu te abraçar,

eu seria teu broche, teu colar.

 

Tão constante o abraço seria,

como parte da própria pele,

próximo ao coração estaria.

 

Sendo tudo:

minha energia e pensamento,

distante e imaterial,

impossível no momento.

 

Ignorando toda lógica,

trago-te para dentro—

és minha joia d'alma,

o brilho do firmamento.

 


 

A Vida Em Mosaico

 

Duas almas dividem suas vidas

e suas experiências,

a mesma machucada convivência.

Uma viveu o inferno na Terra,

o outro, a mais sacrossanta existência.

 

Cada um constrói sua história

como vem preparado para entendê-la.

Aquele que ama é o valente:

coragem de peito aberto,

recebe as pancadas do mar,

suas ondas, direto em efeito.

 

Cambaleia, tomba, quase se afoga,

mas sempre se levanta.

De novo e de novo, tomba.

Não é burrice ou teimosia,

é somente o mais simples

e verdadeiro ato de amar.

 

O outro se protege e se guarda,

ultrapassa a arrebentação e espera.

Goza a vida de sol e de marola,

queima-se na cara,

reclama da grande demora.

 

No final desta história,

há persistência e glória,

há cansaço e demora,

há de tudo—

todas as possibilidades,

felizes e infelizes.

 

Venceu aquele que cumpriu

seu propósito.

Apesar das desculpas,

viveu sua vida,

seguindo o seu coração,

esquecido do medo,

sem perder tempo em vão.

 

Sem buscar lucro absoluto,

pelo lucro pleno somente,

mas pelo lucro de ver o sereno.

 

Na experiência da vida,

pois, na verdade, somos simples—

simplesmente humanos,

aprendendo a viver a vida

com simplicidade e enganos.

 

Acertos e paixões,

erros e prisões,

das quais as maiores

e mais terríveis são os medos.

 

Comicamente, os mais sofridos

desses medos são os mais preparados

para vencê-los.

Porque é sempre assim—

quando a paixão

não é maior que o medo.

 


 

Na Vida O Que Vale

 

O que a vida quer da gente

é comprometimento verdadeiro—

cicatriz na carne feita por navalha.

Não por dever, nem por ser certo,

ou qualquer outra coisa

que se equivalha.

 

O que a vida requer

é que valha a dor,

que justifique o sofrimento.

Pois, na vida, sempre há sofrer.

 

De uma maneira ou de outra:

na presença ou na ausência,

no muito e no pouco,

no tudo e no nada,

na dor e no prazer.

 

Mas não é o maior prazer

que leva à maior das dores.

 

Assim, só há como justificar

essa e tanta vida

se houver amores.

Se não, só há purgatório.

 

O amor é a única coisa

que traz a alma em flor.


 

Entre Nascer E Morrer

 

A vida é um intervalo

entre duas singularidades:

nascer e morrer.

 

A alma,

construída em sonhos,

é como um brinquedo—

de montar e desmontar.

 

Colagem de fragmentos,

de desejos.

Uma bricolagem:

é a vida.

 

Ao envelhecer,

perdem a cor,

ao se tornarem

realidade.

 

Em desilusão,

perdem a aderência,

despregando-se de nós.

Vão deixando-nos nus.

 

No final,

assim como no começo,

assim como nascemos,

estamos nus.

 

O que sobra de nós

são memórias.


 

Dos Anéis De Saturno

 

Dos anéis de Saturno,

sabe-se da Terra assim:

um pequeno ponto de luz,

pálido, quase invisível.

 

Perdido no grande negro,

entre tantas cores do possível.

Não é incrível? Sim, é.

O contraste da pálida luz

com o negro é o que a faz visível.

 

Perspectiva é algo tosco.

Dali, tudo na Terra

é sem graça e fosco.

 

Assim, é impossível amar

algo tão distante

que não se tenha consigo.

 

Na correção do possuir,

guarda-se a visão real:

correto e verdadeiro no coração.

 

Poderia, assim, se discorrer

sobre análises, proximidade,

vieses, capacidade... até morrer.

 

Não importa, pois, no coração

há a magia que inebria,

o torpor de abrir uma porta.

 

É o não querer ver

ou o não lembrar

que diminui até

o sagrado ato de ser.

 

Pode-se estar errado. Que seja!

No erro cometido,

que se perca tudo,

para que não se perca

aquilo que, em real amor,

ainda se tenha.

 

Então, ficarei aqui a sonhar.

Ser verdadeiro, meu coração

espera o teu dia de lembrar.

 

Nos anéis de Saturno,

ficarei a analisar tua pálida luz,

no negro universo noturno,

somente a tua esperar.

 


 

Desejo de Alma

 

Sua alma sereia é

um sorvete de chocolate,

que a minha alma,

infantil e diabética, anseia.

 

O destino, que disse não

à minha entrega,

por uma razão divina,

maior que o entendimento,

sem contrarrazão

ou argumento, me nega.

 

Assim se foi

a minha sereia negra.

Como pode ser doce a ilusão

que amarga à realidade?

Prisioneiro de um sermão,

que sei de cor.

 

Deixe-me ter ilusões.

Amarrado ao mastro da jangada,

viver apenas de realidade,

essa vida de verdades...

é uma vida parada.


 

Posfácio

 

Escrever é um ato de permanência. Este livro nasceu como um lembrete—não apenas para o leitor, mas para mim mesmo. Lembrar do amor, daquilo que nos atravessa e nos transforma, é também lembrar de quem somos, do que fomos e do que ainda podemos ser.

Cada poema aqui presente é uma peça de um mosaico maior, um reflexo do que vivi e senti, do que imaginei e sonhei. Não são apenas versos, mas fragmentos de um sentimento que resiste ao tempo. O amor, quando verdadeiro, não se perde; ele se torna parte de quem somos, moldando nossas palavras, nossos gestos e até mesmo nosso silêncio.

Se este livro encontrou um lugar dentro de você, se alguma palavra ecoou em sua memória ou trouxe de volta uma emoção esquecida, então ele cumpriu seu papel. Porque a poesia não se limita à página; ela vive no instante em que é sentida, no espaço entre o que foi e o que ainda será.

Assim, este livro se despede, mas não se encerra. Ele fica—como a memória do amor, como um lembrete silencioso de que, no fim, somos feitos daquilo que escolhemos lembrar.

E se um dia for preciso recordar o que é amar, basta abrir estas páginas.

Obrigado por fazer parte deste momento.

Obrigado por lembrar comigo.

 

Dante Locatelli

 

 

 

"Se tudo se apagar um dia,

que reste ao menos

a lembrança do amor."

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