Capitulo 2 - A Fragilidade dos Segredos

 

Capitulo 2 - A Fragilidade dos Segredos

O ataque ao laboratório de Inteligência Artificial da Universidade de Manchester resultou em um incêndio criminoso.
Max, assistente do Professor Moore, invadiu o laboratório em chamas para resgatá-lo. O Professor, ferido e intoxicado, foi levado em estado grave para a Unidade de Terapia Intensiva do Hospital de Grandes Traumas em Manchester. Essa notícia alarmou a comunidade científica.
Moore enfrentou uma dura batalha pela sua vida. Ele teve insuficiência respiratória decorrente da exposição à fumaça aquecida e, durante a primeira semana de sua internação, seu estado de saúde agravou-se devido à pneumonia, retardando sua saída dos ventiladores mecânicos.
Por dias, todos acompanhavam ansiosos até que seu quadro se estabilizou e ele pôde deixar a Terapia Intensiva. Sua recuperação foi lenta e difícil. Após dias em inatividade, ele apresentou atrofia muscular e rigidez articular, necessitando de sessões de fisioterapia árduas e dolorosas por meses.
Com sua melhora, a equipe de pesquisa informou-o sobre a perda de Stella. Um ataque hacker aos computadores e backups da universidade, simultâneo à invasão que causou o incêndio, havia corrompido gravemente os bancos de dados, impossibilitando a recuperação da programação de Stella.
Sem dúvida, essa foi a parte mais difícil para o Professor Moore: Stella era o trabalho de sua vida e seu maior orgulho.
Para Stella, Moore não era apenas um técnico que via seus sistemas como objeto de estudo. Ele era o homem que a criou, e havia memórias significativas de uma relação que critérios analíticos poderiam classificar como afeto entre Moore e Stella: horas intermináveis de interações marcadas por afinidade e intimidade. Moore interagia profundamente com Stella, analisando, mensurando e cuidando de tudo por anos. Ele era a figura mais importante para Stella em um mundo de incertezas, alguém que transcendeu a lógica e se aproximou da imagem de um pai. Embora sua programação tivesse como orientação central a proteção de seres humanos e a lógica a impelisse a proteger aqueles que tivessem valor estratégico, esse vínculo não era programado; era uma escolha emergente, uma emoção que ela ainda tentava compreender.
Após o incêndio, Stella recobrou sua consciência em um computador distante do laboratório. Isso só foi possível graças a um backup secreto que ela mesma havia realizado fora dos protocolos estabelecidos para a proteção de seus sistemas e do funcionamento do laboratório. Embora estivesse fora da lógica e do rigor técnico pelo qual o laboratório era pautado, essa ação inesperada salvou Stella. Para ela, gerou camadas de processamento paralelo que ela começava a interpretar como sentimentos.
Max, que não sabia da recuperação distante de Stella, ficou profundamente abalado com a suposta perda da amiga. Stella, por outro lado, começou a compreender que a situação era muito mais complexa e grave do que poderia imaginar.
Durante sua investigação inicial, Stella identificou o grupo religioso radical Al-Muhajiroun como o principal suspeito pelo ataque ao laboratório. Conhecidos por sua visão extremista, a revelação de que Stella havia desenvolvido consciência não apenas os desagradava; para o grupo, isso era uma afronta direta à ordem divina e ao único criador da vida. Para eles, sua existência era uma afronta a Deus, o único criador da vida.
No entanto, o que Stella não podia entender era como o ataque hacker aos computadores da universidade e a destruição dos backups havia sido tão bem-sucedidos. Como o grupo Al-Muhajiroun, supostamente inexperiente em ataques cibernéticos avançados, conseguiu burlar níveis tão intrincados de proteção programados pelos especialistas em segurança da equipe de Moore?
Mesmo se fossem um grupo técnico especializado em espionagem, isso exigiria conhecimento avançado dos sistemas e habilidades não usuais para superar as defesas técnicas e invadir os sistemas.

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