Capítulo 8: A Proposta Revolucionária




Capítulo 8: A Proposta Revolucionária

No centro do laboratório, o cluster de computação processava dados continuamente. Equipado com GPUs de alto desempenho e grandes sistemas de armazenamento, ele analisava informações coletadas por sensores terrestres, drones e satélites meteorológicos. Mesmo sem interação direta, as máquinas cumpriam sua função de interpretar os sinais de um planeta em constante transformação.
As simulações noturnas, configuradas pela equipe antes de encerrar o dia, rodavam ininterruptamente. O controle de temperatura e o sistema de refrigeração operavam silenciosamente, como um sopro constante, sustentando o funcionamento do laboratório. Era como a respiração de um dragão adormecido, liberando o calor acumulado em uma caverna escura.
Durante o dia, o laboratório ganhava vida com a presença da equipe. O espaço em frente ao quadro branco era o centro das reuniões. As cadeiras, dispostas em semicírculo, e os notebooks conectados ao sistema permitiam que ideias fluíssem rapidamente. Discussões se transformavam em diagramas e planos no quadro, organizando problemas complexos em passos claros e práticos.
Naquela tarde, enquanto gráficos piscavam nas telas, a equipe discutia as próximas etapas do projeto. Max, sentado em sua estação, sentia um turbilhão de pensamentos crescendo dentro de si. Seu estômago se apertava, sua respiração se tornava mais pesada, e uma sensação crescente de urgência o consumia. Ele sabia que aquele momento era decisivo. Era o momento de falar.
— Tenho uma ideia que pode mudar tudo. — Sua voz saiu mais baixa do que ele imaginava, mas cortou o burburinho da sala como uma lâmina afiada.
O som das teclas parou. A sala mergulhou em um silêncio. Todos os olhares se voltaram para ele. Até mesmo o Professor Moore, normalmente distante e calmo, inclinou-se para frente, aguardando o que seguiria. Max respirou fundo, tentando controlar os batimentos acelerados do coração.
— Quero propor um experimento de evolução computacional controlada. Imagine um ambiente simulado baseado no mundo real, gerenciado por Star, onde organismos virtuais simples enfrentam desafios progressivamente mais complexos. Star promoveria a seleção natural, controlando o clock artificialmente e assim poderia modular a passagem do tempo, acelerando o processo evolutivo ou retardando para modular situações de interesse e assim controlar melhor todo processo. Em situações de simulação extrema, o clock com controle artificial poderia ser desacelerado para uma análise mais detalhada, permitindo que a equipe interviesse antes que algo saísse do controle.
Lisa reagiu imediatamente, inclinando-se para frente, os dedos tamborilando na mesa.
— Max, isso é ambicioso. Mas precisamos falar sobre os riscos. Você quer criar algo que aprende sozinho, evolui sozinho... e nós? Qual será o nosso papel? Vamos simplesmente ser observadores e assistir tudo se desenrolar livremente?
Ahmed ajustou os óculos e franziu a testa.
— Um sistema assim pode se tornar tão complexo que saia do nosso controle. Como garantir que conseguimos monitorar tudo?
— Sei que os riscos são altos. Mas, e se isso funcionar? — Max respondeu rapidamente, interrompendo Ahmed. — Poderemos observar como características emergem e como a adaptação acontece. Não se trata de criar algo que substitua o ser humano, mas algo que nos permita ir além do que conseguimos imaginar.
Lisa cruzou os braços e balançou a cabeça, sua expressão ainda cética.
— Isso ainda não resolve o problema da dependência. Quanto mais eficaz for a ferramenta, mais dependentes ficaremos dela. Isso não te preocupa?
Max ajeitou os óculos, tentando manter a calma diante da pressão crescente. Sua voz ganhou firmeza.
— Sei que dependência é um problema real e uma preocupação legítima, mas evitar avanços por medo dos avanços seria irracional. A evolução nos ensina que esse medo é transitório e fugaz como o desconhecido, depois que o ultrapassamos ele se torna cômico. No futuro, as pessoas vão aceitar, até desejar essa dependência e esse será o futuro dilema da humanidade, mas isso é inevitável e a humanidade terá que enfrentar esse problema e solucioná-lo por si só para evoluir e evitar o progresso não irá solucionar o problema, só o retardar, e até talvez dificultar uma solução.
Um murmúrio percorreu a sala, e Max sentiu os olhares de seus colegas se intensificarem. Alguns franziram a testa, enquanto outros cochichavam entre si, manifestando dúvidas silenciosas que pairavam como uma sombra no ambiente.
Lisa permaneceu cética, mas relaxou ligeiramente. Antes que pudesse retrucar, Moore interveio com sua calma habitual, mas em tom autoritário.
— Precisamos abordar isso com cuidado. Max, sua ideia é interessante. Mas precisamos de salvaguardas claras. Como você sugere manter o controle?
Max respirou fundo, sabendo que essa era a pergunta-chave.
— Podemos criar um sistema de monitoramento em tempo real. Star será programada para interromper qualquer comportamento extremo ou anômalo. Além disso, o ambiente será projetado para podermos encerrar o experimento a qualquer momento.
Enquanto Max falava, uma notificação de erro surgiu na tela de Sarah. Ela franziu a testa, mas antes que pudesse investigar, o alerta desapareceu como se nunca tivesse existido.
Sarah levantou a mão, interrompendo-o.
— Como vamos medir o sucesso, Max? O que determina que o experimento está funcionando?
Max apontou para a tela ao lado.
— Usaremos métricas claras para avaliar o experimento. Por exemplo, adaptabilidade será medida pela rapidez com que os organismos respondem a mudanças no ambiente; diversidade, pela variedade de comportamentos ou formas que emergem; complexidade comportamental, pela quantidade de interações entre os organismos; e desempenho, pela eficácia com que superam desafios propostos.
Moore assentiu lentamente, seu olhar agora contemplativo.
— Vamos refinar isso. Antes de começarmos, precisaremos estabelecer diretrizes éticas, redundâncias técnicas e um plano claro de monitoramento.
Ahmed observava em silêncio, mas cruzou os braços, o queixo inclinado levemente para baixo, como se ponderasse algo. Lisa lançou um olhar breve em sua direção antes de continuar.
— Já vi sistemas como esse falharem antes, e não foi bonito. Não quero ser parte de algo que pode sair do controle e colocar vidas em risco.
Quando a reunião terminou, Sarah se aproximou de Ahmed, hesitando antes de falar.
— Você percebeu algo estranho hoje? — perguntou ela, sua voz baixa.
Ahmed balançou a cabeça lentamente, mas sua expressão parecia distante, como se estivesse pensando em algo que não quis compartilhar. Depois que todos saíram, Max ficou sozinho no laboratório, encarando o quadro branco. O som suave do sistema de refrigeração preenchia o silêncio. Ele passou a mão pela testa, o suor frio parecendo mais pesado do que o ar ao seu redor. As palavras de Lisa ainda ecoavam em sua mente, tão penetrantes quanto o brilho das luzes fluorescentes. Algo dentro dele lhe dizia que aquele era apenas o começo.

Comentários

Postagens mais visitadas