HORIZONTE 27/12/2022
Querem-me curar do paraíso.
São coisas assim à frente e no papel
Trazem a desesperança ao que analiso
e forçado fazem-me querer o céu.
Quem ama de pouco precisa.
Só precisa do amor que o obriga.
Ser como realmente é no silêncio
Entre lágrimas ou sem briga.
O paraíso não é a solução querida.
Sendo meu é guardado com amor.
Deixa-me por vezes vazio e sem saída
O paraíso pode ser um lugar ambíguo.
Palavras mordazes colocadas no fim.
Fazem aparecer sentimentos em mim.
Mas é somente uma tristeza ruim.
O sol brilha longe do horizonte
Na escuridão que me ocupa a fronte
Guardo na alma o teu retrato
pela fé só minha em meu aflito.
Preso eu sou e confesso ser
em meu próprio lugar infinito.
Em um horizonte invisível é noite.
Tomo eu o dito pelo não dito.
Para cicatrizar o lanho do açoite.
A estrela perdida é a mais clara
essa inverdade é uma joia rara.
Eu a guardo após retirá-la do lixo
O horizonte é mesmo invisível
difícil e distante, é o infinito.
Querem-me curar do paraíso.
São as coisas escrevo no papel.
Trazem a esperança no conciso,
mas o paraíso é findo e é meu.
Triste é só por não ser o teu
Dante Locatelli
https://naquelesegundo.blogspot.com/2022/12/horizonte.html
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"HORIZONTE" é um poema que aborda de forma reflexiva e melancólica temas como amor, paraíso e infinito, construindo uma narrativa poética rica em simbolismo e emoção. A seguir, apresento uma análise detalhada com base no texto.
1. Estrutura e Forma
Estrofes Curtas e Fragmentadas: A estrutura em estrofes breves cria um ritmo pausado e contemplativo, refletindo a introspecção do eu lírico. Cada estrofe é uma unidade de pensamento, mas a transição entre elas é fluida, conectando os temas principais.
Rima e Ritmo: Há um uso leve de rimas (como "mim/ruim", "amor/ambíguo"), que contribuem para a musicalidade do poema sem torná-lo rígido. No entanto, em alguns momentos, a rima parece forçada ou previsível, o que pode reduzir a profundidade emocional.
Repetição: A repetição da ideia de "querem-me curar do paraíso" no início e no fim do poema reforça o ciclo de reflexão do eu lírico, criando um senso de continuidade.
O paraíso é descrito como algo desejado, mas insuficiente para trazer plenitude. A expressão "Sendo meu é guardado com amor" sugere que ele é uma construção pessoal, mas não satisfatória, o que gera a sensação de ambiguidade e vazio.
A última estrofe reforça a tensão emocional ao lamentar: "Triste é só por não ser o teu". Isso aponta para uma dimensão relacional, onde o paraíso do eu lírico é solitário.
Amor e Silêncio
A estrofe "Quem ama de pouco precisa" enfatiza a simplicidade do amor verdadeiro, que transcende palavras ou demonstrações externas. O contraste entre "lágrimas" e "sem briga" sugere que o amor é aceitação, mesmo na dor.
Horizonte e Infinito
O horizonte invisível é uma metáfora poderosa para o inalcançável e o desconhecido. Ele encapsula a luta interna do eu lírico com a vastidão do infinito, que é ao mesmo tempo opressor e fascinante.
A ideia de "estrela perdida" retirada do lixo cria uma imagem de descoberta e valorização do que é negligenciado, mas que guarda um brilho oculto.
Paraíso: Simboliza um ideal inalcançável ou incompreendido, representando a luta entre desejo e aceitação.
Horizonte: Metáfora para o desconhecido e o infinito, usado como uma ponte entre o real e o transcendente.
Estrela Perdida: Uma das imagens mais marcantes do poema, sugerindo a beleza encontrada no inesperado ou no desprezado.
Lanho do Açoite: Representa a dor emocional ou existencial, reforçando a vulnerabilidade do eu lírico.
4. Linguagem
Tom Reflexivo: A linguagem é direta, mas carrega um peso filosófico, o que torna o poema acessível e profundo.
Contrastes: O poema alterna entre imagens de luz ("o sol brilha", "estrela clara") e escuridão ("escuridão que me ocupa a fronte", "horizonte invisível"), refletindo a dualidade emocional do eu lírico.
Ambiguidade: O uso de termos como "lugar ambíguo" e "inverdade" reforça a complexidade dos temas abordados, permitindo diferentes interpretações.
Simbologia Rica: O poema utiliza símbolos universais (horizonte, estrela, paraíso) para explorar temas profundos de maneira acessível.
Melancolia e Reflexão: O tom melancólico é bem equilibrado com a introspecção, criando um impacto emocional duradouro.
Estrutura Circular: A repetição da ideia do paraíso no início e no fim dá ao poema uma sensação de ciclo e completude.
"HORIZONTE" é uma obra introspectiva e profundamente simbólica, que explora com maestria a complexidade do amor, do paraíso e do infinito. As imagens evocativas e o tom melancólico criam um poema que ressoa com o leitor. Com pequenos ajustes, ele pode alcançar ainda mais intensidade e coesão.
É uma peça que demonstra não só a habilidade técnica do autor, mas também sua sensibilidade para capturar os dilemas humanos em versos.