VERDADE 25/06/2016
VERDADE 25/06/2016
Um beijo marcado no meu colarinho
é um troféu dos céus
ou um incômodo marginal.
O cheiro na minha mão
é o desconfortável odor
das mãos de um trabalhador.
Ou é o perfume mais raro
ligado a lembrança mais doce
que ilustra a figura do amor
que se veja ímpar
de quem quer que se seja.
Só o coração sabe a verdade
que o lábio educado cala
aquilo que o coração selvagem
nos grita e fala.
Já se tiveram todos
mas o amor te leva preso
o outro é só a pegada
que a chuva apaga.
E eu pergunto quem já foi
A figura que se dissolve na água
O incômodo matinal
do odor na mão do trabalhador.
De quem se guardou o troféu
lembrança de ter estado no céu
com as mãos inundadas
do perfume mais raro
da imagem cara de quem se foi.
Isso não é ruim
Isso é comum
Raro de verdade é o laço comum
Onde dois iludidos apaixonados
persistem achando que são um.
#Amor, #Memória, #Dualidade, #Percepção, #Realidade, #Conflito Interno, #Sensações, #Simbolismo, #Reflexão.
Já se tiveram todos
mas o amor te leva preso
o outro é só a pegada
que a chuva apaga.
E eu pergunto quem já foi
A figura que se dissolve na água
O incômodo matinal
do odor na mão do trabalhador.
De quem se guardou o troféu
lembrança de ter estado no céu
com as mãos inundadas
do perfume mais raro
da imagem cara de quem se foi.
Isso não é ruim
Isso é comum
Raro de verdade é o laço comum
Onde dois iludidos apaixonados
persistem achando que são um.
Dante Locatelli.
http://naquelesegundo.blogspot.com/2016/06/verdade.html
#Amor, #Memória, #Dualidade, #Percepção, #Realidade, #Conflito Interno, #Sensações, #Simbolismo, #Reflexão.
Comentários
"VERDADE," um poema de Dante Locatelli, captura a complexa interação entre percepção e realidade, destacando o impacto profundo do amor e da memória. Esta crítica literária pretende aprofundar a análise temática, as nuances estilísticos, a composição estrutural e a simbologia imagética do poema.
O poema explora temas como amor, memória, percepção e a dualidade das emoções humanas. O motivo recorrente do "beijo marcado no meu colarinho" serve como símbolo do impacto duradouro do amor, oscilando entre uma memória valorizada e uma fonte de desconforto. Esta dualidade é evidente ao longo do poema, onde elementos do cotidiano (como o "odor desconfortável das mãos de um trabalhador") contrastam com lembranças mais doces e idealizadas ("o perfume mais raro ligado à lembrança mais doce").
Locatelli emprega uma linguagem rica e evocativa, que alterna entre o concreto e o abstrato. A escolha de palavras como "troféu dos céus" e "incômodo marginal" cria um contraste que sublinha a ambiguidade dos sentimentos humanos. A utilização de imagens olfativas ("cheiro na minha mão") intensifica a sensação de realismo e proximidade, permitindo ao leitor uma experiência sensorial que complementa a introspecção emocional do poeta.
Estrutura e Forma
O poema é estruturado em estrofes livres, sem um esquema rígido de rima, o que reflete a natureza fluida e imprevisível das emoções que descreve. A ausência de uma métrica fixa contribui para a sensação de fluxo natural do pensamento, onde cada linha parece emergir espontaneamente, em sintonia com o conteúdo emocional. Essa forma livre também permite uma maior flexibilidade na expressão de ideias complexas e nuançadas.
As imagens e o simbolismo são centrais na construção do poema. O "beijo marcado no meu colarinho" funciona como um símbolo multifacetado que encapsula tanto a ternura quanto a mágoa. O "odor desconfortável das mãos de um trabalhador" e o "perfume mais raro" estabelecem uma dicotomia entre o mundano e o sublime, refletindo a luta interna entre o amor idealizado e as realidades cotidianas. A figura do "coração selvagem" grita verdades que a "lábio educado" cala, uma representação poderosa do conflito entre razão e emoção.
O poema mantém uma coerência temática e uma coesão interna através da repetição de símbolos e motivos. A transição entre as estrofes é suave, com cada segmento construindo sobre o anterior, aprofundando a exploração do tema central. A interrogação final ("De quem se guardou o troféu...") encerra o poema com uma reflexão aberta, convidando o leitor a contemplar a natureza subjetiva da verdade e da memória.
"VERDADE" ressoa com qualquer leitor que já tenha experimentado a dualidade do amor e da memória. A habilidade de Locatelli em capturar sentimentos complexos e contraditórios de maneira tão vívida torna o poema não apenas uma obra de arte, mas também um espelho da experiência humana. A relevância do poema se encontra em sua universalidade; todos nós carregamos troféus e cicatrizes de nossos amores passados.
Dante Locatelli, em "VERDADE," oferece uma meditação profunda sobre o amor, memória e a natureza da verdade emocional. Via uma linguagem rica e imagética, o poema nos convida a explorar as profundezas do coração humano, revelando as verdades que permanecem muitas vezes escondidas nas sombras do cotidiano. "VERDADE" é uma obra que desafia e enriquece, deixando uma marca duradoura no leitor.
Dante Locatelli, através deste poema, mostra seu domínio na arte de capturar a complexidade das emoções humanas em palavras. É uma leitura que enriquece e provoca reflexão, lembrando-nos das nuances e profundidades do amor e da memória.