PROCURA 16/02/2016
PROCURA
Muito novo, já sofria
de uma falta que me corroía.
No início, entendi como fome.
E, inocente, me via atraído ao vício,
pelo prazer e beleza fácil.
Nos formatos e tensões
dos corpos, cheiros e do tocar.
Depois, pelo ter e pela conquista,
então, posse, poder e a vitória infantil.
Fácil entender o gosto do prazer.
Como animal em gozo,
que ainda o tenho hoje,
pois sou homem somente.
Fome que se sacia todos os dias
e volta a nascer, indolente.
Como se fosse uma maldição,
que recai sobre todos os mortais.
Uma vez a fome saciada,
sobra ainda algo mais:
um sentimento em vazio.
Talvez por si mesmo,
um oco no peito,
sensação de um jeito
nostálgico de algo por vir.
Uma sensação de falta,
de mundo e de si próprio.
Beleza é o que falta no mundo,
após saciar-se a fome.
Beleza e entendê-la,
para só então se iniciar
a transformação do mundo.
Mesmo sem mudá-lo.
Somente para tirar-se
um bom proveito dele,
sem desperdícios.
Nem por excessos,
nem por ignorar
como dele se aproveitar.
Do desejo, então, nasceu,
ou foi entendido somente
após aquele momento,
o desejo figurativo a ocupar
um hiato no próprio ser.
Como estranho é este desejo
humano de completude.
Será carência de ser mais,
como se sentíssemos a falta
de uma parte de nós,
ou é somente intolerância
com o próprio ser na ignorância?
Ocasionalmente, sinto
necessidade de dividir a vida.
Ver e entender por outros olhos
algo que eu mesmo vi e já provei.
Assim como se interpolasse um espelho,
à espera de algo maior,
um detalhe que ampliasse meu viver
e me permitisse então sentir novamente,
porém, agora, renovado e diferente,
um eco de mim mesmo,
e assim crescer na própria existência.
Então, novamente, o caminho do início,
mas, agora, sabendo sentir a fome,
mas além dela, algo mais.
Algo mais humano.
Agora, consciente, pude entender
que ser humano
é atravessar a humanidade
sem perdê-la, e continuar
maior e melhor, como deve ser.
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