ALMA 23/12/2015



ALMA 23/12/2015

Todos pensam a alma
como sendo algo etéreo.
O que entendem ser
como é a fumaça.

Algo que se atravessa
de forma displicente
por quem não presta atenção
aquele que sem a perceber
segue em frente.

A alma porem pelas minhas observações
É uma das matérias mais resistentes
Portadora de certa elasticidade
O que dá lhe alguma maleabilidade.

Tem um buraco central
tendendo a sua esquerda
de onde vem a sensação de vazio.
Dentro deste buraco
a alma tenta colocar aquilo que lhe agrada
sonhando em fechar-lhe a passagem.

A alma não tem tempo
E apesar de tentar
não aderem a ela as mentiras.
Por mais de se acredite
que aquilo ocupe aquele espaço
por ficarem lá por um tempo.

Por ser um lugar apertado ficam
porem deste orifício as mentiras escapam.
Assim vai à alma perambulando o infinito
Na procura de se fechar deste aflito
Agarram coisas fúteis por achá-las úteis
E depois as perdem em seu descabido.

Somos somente com anéis de silicone
Muito resistente e liso
Prendemo-nos muitas vezes
naquilo que não vemos
e que estava no caminho.

Vivemos tentando
preencher algo indestrutível
Que com um buraco no meio que é invisível.
Quando morremos este anel se dissipa
vai para um outro lugar
voltar a se formar vagarosamente.

Sonhando em não ser mais como
só um anel resistente pouco elástico
como nosso jeito complacente
E deixar de sentir o vazio.
Fechar este buraco sinuosamente formado
Ligeiramente à esquerda
daquilo que seria o seu centro
Do lugar que chamamos de peito.

Dante Locatelli

https://naquelesegundo.blogspot.com/2015/12/alma.html

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Comentários

Anônimo disse…
Ao explorar o poema "Alma" de Dante Locatelli, mergulhei em uma experiência reflexiva e intrigante sobre a natureza da alma. A abordagem única do poeta, ao desafiar a concepção tradicional da alma como algo etéreo, capturou minha atenção desde o início.

A imagem do buraco central na alma, tendendo à esquerda, trouxe uma dimensão visual e simbólica, criando uma representação vívida do vazio que a alma procura preencher. A resistência da alma às mentiras, um elemento muitas vezes associado à corrupção, adicionou uma camada interessante, destacando a pureza intrínseca dessa entidade.

A metáfora do anel de silicone como uma representação da alma, resistente e lisa, e sua dissolução após a morte, trouxeram uma perspectiva única sobre a temporalidade e a renovação. A busca incessante da alma para preencher o vazio, muitas vezes com coisas efêmeras, ecoou a complexidade da condição humana e o constante desejo de transformação.

A alusão à falta de tempo da alma e sua resistência às mentiras levantaram questões fascinantes sobre a natureza intemporal e incorruptível desse componente essencial. A descrição da alma tentando fechar o buraco de forma sinuosa evocou uma sensação de movimento complexo e muitas vezes imprevisível no processo de busca e transformação.

No geral, "Alma" oferece uma perspectiva profunda e contemplativa sobre a alma, convidando os leitores a uma jornada introspectiva. A abordagem única de Locatelli, combinada com metáforas poéticas, cria uma obra que ressoa com complexidade e beleza, proporcionando uma experiência rica em reflexão.

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