SERÁ QUE O PAULO JÁ MORREU 02/07/15
SERÁ QUE O PAULO JÁ MORREU 02/07/15
Seu nome era Paulo, nasceu na Itália e veio novo para o Brasil. Todos o chamavam de Paolo. Achavam que, por ser italiano, deviam pronunciar o seu nome de forma diferente. O que não sabiam é que Paulo em italiano tem a pronúncia igual ao português.
Quando o chamavam de Paolo, ele deixava e achava graça.
Aposentaram-se após anos de trabalho em uma montadora de São Caetano e ficou famoso após abrir na garagem de sua casa um pequeno restaurante de massas.
O Paulo era um senhor grisalho, muito branco, baixo e barrigudo. Usava sempre uma camiseta sob um avental e parecia muito feliz, o que o fazia lembrar um papai Noel só que sem a barba.
"O Paolo", esse era o nome de seu pequeno restaurante, ou seria "O Paulo"?
Não dá para saber, pois o restaurante nem tinha placa, mas todos falavam da lasanha do Paolo e assim foi indo.
O Paolo ficava em um bairro residencial de Santo André e enchia nos finais de semana.
Na entrada do restaurante não se via nada de mais, era uma casa como as outras da rua, mas a garagem era coberta e fechada tinha somente uma porta que ficava fechada, mas não trancada.
Ao entrar viam-se as mesas dispostas por todo local e uma senhora com a mesma idade de Paolo que atendia em um balcãozinho e dispunha os fregueses que entravam.
Eu arrisco a dizer que era a esposa do Paulo. Nunca tive a chance nem a intimidade de perguntar, mas eles sempre estavam juntos.
O restaurante era muito simples, mas valia de tudo pela recompensa que era comer a lasanha do Paolo.
O Paulo quase não saia da cozinha, que ficava nos fundos da casa.
Ele tinha criado a cozinha fechando os fundos da casa, como fez com a frente e obteve um espaço bem grande.
Lá se servia, o que era a melhor lasanha do mundo, mas era muito chato ir ao Paolo, porque se demorava horas para se conseguir esta lasanha.
O Paulo fazia questão de só iniciar o preparo do prato após haver o pedido feito.
A manha era ligar para o restaurante e fazer o pedido para viagem e marcar hora para buscar. Na hora chegava-se com a família e avisava que se consumiria ali e mesmo assim, ninguém saia sem ter esperado no mínimo 1 hora pelo prato.
Os pratos de entrada não era grande coisa, pelo que eu me lembro, era um pão caseiro feito no local e uma pasta dessas que servem em todo restaurante italiano acompanhada com azeitonas.
A demora era tanta que a entrada não dava para saída e éramos obrigados a ficar o resto do tempo de conversar e a beber vinho. Assim, quando chegava a lasanha eu sempre já estava meio alto.
A lasanha do Paolo vinha em uma travessa grande que dava para seis pessoas comerem bem.
Era uma lasanha alta com molho branco, queijo derretido e gratinado em uma grossa camada e crocante.
Era servida pela mesma senhora da recepção, sempre com a mesma rotina e habilidade e era um show a parte.
Com duas espátulas de pintor, ela quebrava a crosta de queijo gratinado com destreza para colocá-la fumegante nos pratos.
Até hoje eu não sei se a sensação que se tinha vinha da fome, dada a demora, do vinho ou era só a lasanha que era realmente a perfeita combinação de uma massa caseira leve, um suculento molho branco com mussarela derretida e uma crosta grossa de queijo gratinado.
Gostaria de saber se o Paulo continua vivo. O que não é tão fácil sabendo que o Paulo era um senhor aposentado e isso no final da década de 90.
Bem, isso tudo, na verdade, foi uma introdução e tem uma razão. É dizer que as coisas da vida têm um tempo de validade.
As situações mudam, as pessoas envelhecem e morrem. Outros tantos vão nascendo e ocupam seus lugares.
O que fica é a lembrança, mais onde havia sentimentos fica a saudade e se não há o que fica é o esquecimento.
As histórias no tempo, as sensações são o que ficam.
O tempo leva os detalhes que se vão. As nossas impressões, que podem muitas vezes nem ser totalmente corretas ou condizerem com a realidade dos fatos.
Para ser sincero, eu tenho mesmo é saudade das lasanhas do Paolo.
Dante Locatelli
https://naquelesegundo.blogspot.com/2015/07/paulo-morreu.html
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