O Pobre Menino Triste

O Pobre Menino Triste

por Dante Vitoriano Locatelli

Amo desenhar e sempre desenhei. Já vendi, já guardei, já expus — mas ainda não alcancei o lugar que ele merece. O desenho foi meu alento, meu idioma secreto. O cinema, minha casa. Os livros, minha escola — e todos os outros lugares.

Na música, sou plural: não tenho uma frequência exata. Gosto de tudo que é bom e bem feito. Podem dizer que isso é falta de personalidade — mas mais grave seria mudá-la só para agradar aos outros.

A beleza feminina sempre ocupou um lugar no meu coração. Não por ser chique — era puro fascínio. Através dela, chego ao que é bom, ao equilíbrio, ao amor. É estranho tentar explicar como nasce um amor que ninguém controla, e que tudo ignora.

Formei-me médico. E da medicina, tudo já vi.

Amo a amizade, porque sem ela, todo o resto nada vale. Minha sinceridade não fere por vaidade, mas por ignorância e orgulho. E detesto a estupidez humana — sobretudo quando se disfarça de emoção, justiça ou bondade.

Nasci sob o signo de Gêmeos, com Júpiter em Caranguejo — e embora muitos achem graça em quem tenta explicar a alma pelos astros, vejo neles um espelho simbólico do que sinto e de como as coisas são. Carrego no peito um coração antigo, e nos olhos, a inquietação constante de quem não pode crescer.

A paternidade me arrancou dessa realidade interna. Ainda assim, continuo acreditando no amor — como quem resiste à verdade para não perder alguma inocência.

Sou pai de um rapaz e de uma menina. E talvez neles repouse meu último fio de esperança de que o mundo ainda possa ser salvo.

O que mais me atormenta na velhice é a dor — o legado da minha genética. Sei que heranças não são apenas casas, empresas ou dinheiro numa conta bancária. São as dores e doenças que carregamos, as ideias, a voz... os gestos.

Mas minha maior dor é entender o amor —
e ver como ele é confuso para os outros...
e difícil, para mim, ver...
e não poder mais fazer nada.


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