O Amor Que Se Sente: Ensaio Poético-Filosófico
O Amor Que Se Sente: Ensaio Poético-Filosófico
Por Dante Locatelli
Apresentação Pessoal
Este ensaio não foi escrito com intenção de convencer ninguém. Foi uma necessidade. Ele nasceu como nascem as coisas que a gente sente demais e precisa colocar em palavras. Começou com um poema e virou conversa entre dois amigos que buscavam entender o que é isso que, de vez em quando, atravessa a gente e muda tudo: o amor.
"O Amor Que Se Sente" é uma forma de dizer que, pra mim, o amor é real mesmo quando é solitário. Que a experiência de sentir é maior do que a necessidade de ter sido correspondido. Que se eu amei, mesmo sozinho, então algo em mim foi tocado e transformado.
Não sei se essas ideias servem pra todo mundo. Mas sei que elas servem pra mim, e talvez sirvam pra quem carrega uma alma inquieta e precisa desse tipo de verdade. Por isso compartilho.
Introdução: O Poema Como Gênese
Este ensaio nasce de um poema. Um poema que não só apresenta ideias, mas abre fendas na consciência para que sentimentos profundos possam atravessar. A obra a seguir é mais do que versificada: ela é vivida. É dela que brota, no fluxo do tema, este texto filosófico sobre o amor e sua experiência real como instrumento de revelação da alma.
Poema de Origem
Melhor Ser Feliz
Melhor ser feliz, melhor ter paz
do que estar certo:
errado isso é sociopatia.
Melhor ser feliz que ter razão:
sem a razão, só existe a loucura.
Frases sedutoras povoam a vida:
mas é o bem é razão final.
O certo causa o bem,
gera paz, é certo.
É a paz o bem em si?
Permanecer em paz,
em tempo de atitude,
é cômoda covardia,
estático desrespeito.
Não existe a paz perfeita
a despeito do bem.
Sedução em palavras poéticas:
não existe nada errado que dê certo,
ou algo certo que dê errado.
Confusão com a verdade,
que nem sempre é bem.
Então, melhor é a felicidade.
Se calar é angústia,
que mata a paz, assim,
calar nem sempre é certo.
Quando se vive no amor:
como vive o amor em quem o sente
a todo momento,
a testar a si mesmo e a vida?
O amante experimenta o amado,
culpado de humano ser,
desfaz ou não a ilusão querida.
Apesar do entendido,
o desamor sofrido,
abre-se mão da alma
por esse amor ser confuso,
ou não correspondido e contuso.
Vive o coração cego e ignorante,
não aceita nada que não seja
o próprio entendimento
irreal da sua própria vida.
Fora esse crítica igual,
o coração sádico ideal, esse sim.
O que ele faz se chama bater.
Bem que poderia ser melhor,
deveria chamar-se açoitar,
o que a mente doente ou não,
entende ser ternura de amar.
Ensaio: O Amor Como Experiência de Essência
Estávamos falando de amor. Do amor como ele deve ser de verdade algo transformador, não pelo que apenas promete. Do amor que, mesmo quando nasce de um engodo, de uma sedução ou mentira, ainda assim ele é um milagre — se, dentro de nós, foi um sentimento verdadeiro.
Esse é o ponto de partida: amar é um ato da alma. Nem todos carregam em si esse desejo. Nem todos pretendem verdadeiramente amar. Muitos buscam só viver, conforto, companhia, distração. Amar de verdade é diferente: é entrega, é risco, é transformação.
O amor verdadeiro não precisa ser correspondido para ser autêntico. Ele é real no corpo de quem o sente. Não é promessa, é experiência, é causa e efeito. E é por isso que, mesmo que tenha sido por um instante, mesmo que tenha sido um amor causado por engano ou mentira, se dentro de mim foi amor — eu sou grato.
O amor não se compra, não se exige. Ele é uma revelação que não pede permissão, não mostra sinais de sua aparição, ele simplesmente acontece. Quem o sente, mesmo sozinho, já foi tocado pelo que existe de mais sagrado. Porque amar é tocar na sua própria essência. É acessar um lugar proibido e escondido dentro de si mesmo que, de outro modo, permaneceria fechado e submerso.
Esse amor nos ensina aquilo que não se aprende em livros. Há coisas que só se compreendem através dele. Coisas que nos mudam para sempre. Por isso, o amor, mesmo trágico, mesmo ilusório, pode ser para nós verdadeiro — se for vivido e entendido com toda a alma e por inteiro.
Mas nem todos querem esse mergulho esse entendimento, pois nem todos tem algo para fazer com isso. Nem todos carregam o desejo de decifrar a própria alma. Muitos vivem entre reflexos e palavras prontas, entre prazeres fáceis e confortos e segurança. Talvez sejam mais felizes assim, na simplicidade de seus sentidos. Outros, no entanto, precisam ser inquisitivos na vida cotidiana — num olhar, num toque, num silêncio — buscam em todos os lugares a matéria-prima da própria alma.
Aqueles que escrevem, que querem amar, que vivem em busca da verdadeira beleza, são os que escavam. Fazem de uma vida comum um altar sem religião. E é no gesto simples que encontram o sagrado: no que é pequeno ou grande, no que é passageiro ou eterno.
O amor só é sagrado quando é vivido.
A intenção não toca o divino por não ultrapassar seus próprios limites.
Só o sentimento do amor o faz.
E esse sentir — esse milagre silencioso — é o que nos revela quem somos.
"Não me importa o que você queria. Me importa o que você me fez sentir. E se o que eu senti foi amor — mesmo que sozinho — então eu fui tocado por algo divino."
– Dante Locatelli



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