NADA

 

Nada

Dante Locatelli

Hoje, eu não sinto nada.
Da última vez que amei,
de forma desesperada, amei,
mas, ao partir-se, meu coração,
microscopicamente dilacerado,
Evaporou... Sobrou...

N
         A
     D
                 A

O pior nessa desilusão
foi o mal gosto da realidade.
O amargo no desamor
empalideceu as papilas gustativas,
tornou a vida insípida.

Contrastando com outrora,
que era vivo e colorido,
não tem mais nenhum sentido.

Olhos que vislumbraram
o horizonte em luzes,
sonhos em auroras boreais,
marginais momentos mágicos.

O pior desse desamor
é que ele endureceu as veias,
pois não há mais coração,
só há a dor e a realidade.

Ele se foi no vento da maldade,
a escolha de não amar
destruiu o que havia de sagrado,
mesmo que não tenha sido errado.

O mundo agora jaz soterrado,
incrédulo de sua essência,
perdido na própria existência.

O que sobrou da pureza
foi um mundo em preto e branco.
Matam a bondade e a beleza.

Eles se foram trocados por infinitos
tons de cinza queimado,
e onde antes havia  luz e cor,
foi corrompido, contaminado.

Reclamar da vida, reclamar.
A verdade, a existência.
Sem razão e sem motivo.
Só vivemos e estamos perdidos.

O que é o inferno, senão
um lugar de desamor,
preso em nós, por um motivo perdido?
Onde o amor vive irreconhecível,
e os autômatos de "Metrópoles"
são agora, mais humanos que nós.

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