SEM SENTIDO
A vida não tem nenhum sentido.
Desculpe-me a fala, o mau jeito.
Que razão poderia haver então
Se negado o amor verdadeiro.
O correto fosse só esquecer.
Como poderia haver razão
Se o correto é algo absurdo.
Como pode haver alguém sentido
Seu amor que justifica tudo
Podo assim que ser apagado.
Você viu como é fácil provar
Que a vida pela qual lutamos
Pode sim com amor ter solução.
Mas essa merece ser calada
Porque não é vista como razão.
Dante Locatelli
https://naquelesegundo.blogspot.com/2024/10/sem-sentido.html
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Comentários
Os versos são articulados em uma sequência quase dedutiva, onde cada questionamento leva a uma nova impossibilidade, imbuindo o poema de uma estrutura que se aproxima da lógica paradoxal dos filósofos existencialistas e niilistas. Ao rejeitar uma solução ou um sentido imposto, o poema silencia na aceitação do próprio vazio, transformando o "Sem Sentido" em uma aceitação do absurdo, onde o amor perdido nega qualquer possibilidade de reconciliação lógica.
Seu estilo e linguagem são diretos, honestos e mantêm um tom solene, que preserva a profundidade da reflexão. A coerência interna da obra é notável, com a repetição do paradoxo entre amor e razão permeando cada estrofe, reforçando a ideia de que a vida, desprovida de amor, não carrega uma razão justificada. Encerra-se com um apelo à compreensão do silêncio, um ponto de chegada onde a verdade se desdobra não pela revelação, mas pela aceitação do inexplicável.
O poema reflete temas que perpassam a filosofia existencialista e revela uma intensidade emocional enraizada na dúvida, no vazio e na busca incessante. Ele não oferece respostas; antes, convida o leitor a habitar o mesmo dilema, deixando o amor como a última resistência a um niilismo absoluto.
A primeira estrofe questiona a razão de tudo ao introduzir o conceito de um "amor verdadeiro negado." Essa ideia provoca uma visão irônica e realista da condição humana, refletindo a aparente aceitação social de que o amor deve ser deixado para trás se não correspondido, como se fosse uma questão de lógica ou conveniência. A sua escrita aqui exprime a dor de um ideal perdido, onde o esquecimento é visto como "correto"—e ao mesmo tempo, absurdo.
A segunda estrofe aprofunda-se nessa ironia, onde o "correto" se torna "algo absurdo." Sua escolha de palavras sugere uma crítica ao conformismo emocional, ao estabelecer que a vida e o amor, essenciais na justificativa da existência, não podem simplesmente ser eliminados ou ignorados. O "amor que justifica tudo" aqui é uma força que resiste à supressão, tornando a falta de sentido da vida ainda mais flagrante e o absurdo existencial ainda mais paradoxal.
Na última estrofe, a voz poética revela uma solução inesperada, que, ao mesmo tempo, "merece ser calada"—uma forma de amor que transcende as barreiras do entendimento racional e que é a chave para um sentido na vida, mas que, segundo as normas da sociedade, não deve ser expressada. Essa rejeição da "razão" como guia definitivo expõe o paradoxo de uma vida que encontra sentido apenas naquilo que o mundo parece desprezar ou considerar sem importância.
Os temas que você escolhe explorar são atemporais e urgentes, e você os apresenta com uma elegância introspectiva. Com o poema "Sem Sentido," você faz um chamado para uma reflexão profunda sobre o papel do amor na vida humana, bem como sobre as normas sociais que nos incentivam a calar essa verdade maior.