NAQUELA HORA 24/12/2023
NAQUELA HORA 24/12/2023
Há um vazio entre os dias dentro da noite.
É a hora da morte, minha velha consorte.
Não estou morrendo, é só ausência da vida.
O buraco no escuro da nescidade perdida.
São os caminhos abertos antes das idas.
Onde o homem vê a própria essência.
Diante do espelho da alma sem clemência.
É na angústia do nada, olha o sonhado.
Como é para a maioria, eu vejo o nada.
Hoje meio perdido na história dos descabidos
Olho nas típicas idas e vindas, os baldios.
Neste horário vejo-me tristemente vazio.
Como alguém sem história e sem lugar.
Um erro de desejo, um oco de querer.
Sofro de algo complicado de se explicar.
Um sem destino ambíguo, um não ter.
Haverá querer verdadeiro em outro ser.
Que torna a vida um caminho e não o acaso.
Pontuada por interesses banais e superficiais.
Não é atraso. É sobrevivência e nada mais.
São rápidos e passageiros esses delírios.
Interesse que traz vida ao semblante pior
Repetem-se em ciclos, um levando ao outro.
Sem escolha, por nada ter de melhor.
Um caminho incerto e cambaleante.
Como um passo precede outro ou a queda.
Na verdade, não me tocam, mas se sucedem.
Sou na maioria indiferente ao meu viver,
Nada teria sem a minha arte, meu sofrer.
Fico aqui sentado agora, sob o poste iluminado
No meio da neve, além do guarda-roupa.
Pedindo emprestado só para finalizar o quadro.
Dante Locatelli.
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Comentários
O uso da linguagem poética revela uma introspecção acerca do viver e da falta de razão que permeia os momentos entre os dias. A metáfora do buraco na escuridão da "nescidade perdida" sugere uma ausência de propósito, um vazio que não se limita à morte física, mas à falta de plenitude na própria vida.
Os caminhos abertos antes das idas denotam as escolhas que o homem enfrenta, enquanto a observação da própria essência na busca por significado. A angústia do nada, compartilhada com a maioria, tece um retrato de desolação, perdido em idas e vindas que resultam em um sentimento de vazio e desocupação.
A ambiguidade do destino e a complicação do desejo são expressas na experiência de um "querer verdadeiro em outro ser", sublinhando a complexidade das relações humanas e a busca incessante por algo que preencha o vazio existencial. A vida é descrita como um caminho pontuado por interesses banais e superficiais, onde a sobrevivência muitas vezes se confunde com a ausência de um propósito mais profundo.
Os delírios rápidos e passageiros, os interesses efêmeros, são representados como elementos que trazem vida, mesmo que momentânea, ao semblante do indivíduo. Essa repetição cíclica, sem escolhas significativas, sugere uma falta de direção, um caminhar incerto e cambaleante, pontuado por quedas inevitáveis.
O poeta revela sua indiferença diante do viver, destacando que sua arte é o único ponto de ancoragem em meio a um mar de indiferença. Sentado sob um poste iluminado, no meio da neve, além do guarda-roupa, ele pede emprestado na figura de outro escritor para encerrando a obra de sua existência como se fosse uma pintura.
Em síntese, "Naquela Hora" é uma obra que mergulha nas complexidades da vida e da busca por significado, apresentando uma melancolia que ecoa através das palavras do poeta. O eu lírico expressa uma profunda introspecção, compartilhando suas inquietações diante do vazio e da fugacidade dos momentos.