A FILHA DO ANALISTA 28/03/2019
A FILHA DO ANALISTA
Dante Locatelli
Ama a si mesma —
e nisso não se engana.
Primeiro ama a si;
o amor é assim, ela diz
“amo primeiro a mim”.
Ama quem a ama;
e, se não ama,
encontra outro melhor —
aquele que ame
quem ela sabe que ama.
Quando ouço frases assim,
de quem descarta o amor
por amar a si mesma,
assim, tão contente,
me é um som cortante.
eu me pergunto:
será que todos amam, de fato?
Mesmo que eu queira entender
O amores que existam diferentes,
não entendo um amor sem entrega,
que possa ser assim indiferente
à perda de quem se ama.
Não consigo ver
um amante mandar embora —
não importa a hora —
ou, amando, colocar-se à frente
de quem se diz amante.
A todos os psicanalistas
que dizem entender o inconsciente:
como pode sonhar esse amor
tão egoísta e decadente?
Entendem de muitas coisas,
mas do amor parecem
estar distantes —
mesmo que se achem contentes,
mais agora do que antes.
Achava que amava.
Amou-se — e fodeu-se —
até descobrir o que era amar:
entendeu que era masturbação
o desamor que chamava de amar.
Amor que começa em si
e não sai de si é só vaidade;
amor que começa em si
e fica maior pelo outro
é amar de verdade.
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