O QUE VALE DE VERDADE 16/02/2016
O QUE VALE DE VERDADE
(Dante Locatelli)
Um poema, se não é lido.
Uma história, desconhecida.
Uma dor, se não é sentida.
Uma paixão, enterrada.
Uma boca, amordaçada.
Uma vida, não entendida.
Que se espalhem os poemas,
cantando-se as histórias,
com os gritos de nossas dores,
nas lutas por nossos amores.
Que se desfralde a bandeira,
tinta de sangue, na qual
estejam os símbolos e os brasões
daqueles a quem fizemos juras.
Em hinos e brados,
acompanhamos, com os corações,
as verdades que escolhemos.
E se for tudo em vão,
que seja:
uma vida correta,
uma alma tranquila,
pois o que vale
é ter paixão na vida.
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Comentários
Análise Crítica
Temática e Conteúdo:
O poema trabalha com a ideia da expressão como forma de existência. Se algo não é lido, sentido ou vivido, ele tem valor? Essa questão é um eco de dilemas filosóficos e literários desde a antiguidade, evocando pensadores como Nietzsche e Camus, que refletiram sobre a importância da experiência na construção do significado.
Estrutura e Ritmo:
O poema apresenta uma musicalidade forte, com um jogo de repetições e inversões que amplificam sua força. A primeira estrofe, em especial, é impactante pelo ritmo e pelo encadeamento de imagens:
"Um poema se não é lido.
Uma história desconhecida
Uma dor se não é sentida."
Essa sequência evoca um crescente de ausência e invisibilidade, levando à reflexão sobre a necessidade de expressão e recepção.
Estilo e Imagens:
Há um uso inteligente de metáforas e imagens de protesto, como no verso:
"Que se desfralde a bandeira
tinta de sangue nas quais
estejam os símbolos e os brasões."
Aqui, há um tom de luta e sacrifício, uma ode à resistência artística e emocional. O sangue simboliza o custo da expressão, seja ele físico, emocional ou intelectual.
Conclusão e Impacto:
O fechamento do poema é forte e, ao contrário de um niilismo absoluto, oferece um caminho:
"E se for tudo em vão.
que seja,
uma vida correta
uma alma tranquila
pois o que vale
é ter paixão na vida."
Há um tom estoico nessa resignação apaixonada. A ideia de que, mesmo que tudo se perca, ainda resta a integridade e a paixão como forças sustentadoras.