SEM CORAÇÃO 23/03/2015
SEM CORAÇÃO 23/03/2015
Eu tive um coração, um dia
E não sentia nada
Eu só queria
mas não sentia.
E não sentia nada
Eu só queria
mas não sentia.
Até que um dia senti
e tudo passou
a fazer sentido.
e tudo passou
a fazer sentido.
Fiquei somente
com o peito meio doido
meio sem jeito.
com o peito meio doido
meio sem jeito.
meio perdido.
Quando eu perdi
meu coração.
Eu não existia mais
só existia a dor.
meu coração.
Eu não existia mais
só existia a dor.
Se não existe então
o que é que doía?
o que é que doía?
Porque viver sem,
doía mais que sentir.
Tenha dó de mim
Não me deixe
sem um coração assim.
Não me deixe
sem um coração assim.
Mas eu sei
nem que me devolva
esse coração
não é mais meu.
nem que me devolva
esse coração
não é mais meu.
Nem que você
o jogue fora.
E eu o ache
na lata do lixo
Que ele te xingue
Que ele chore.
o jogue fora.
E eu o ache
na lata do lixo
Que ele te xingue
Que ele chore.
Ele nunca mais será meu
Esse objeto perdido
Foi vendido barato
Como se fosse
somente um trapo.
Esse objeto perdido
Foi vendido barato
Como se fosse
somente um trapo.
Esta para demostração
Pendurado sobre
Um mastro de bandeira
Intocável
Lamentável.
Pendurado sobre
Um mastro de bandeira
Intocável
Lamentável.
Seco e retorcido
Deformado e mal tralado,
mas é um coração vivido
aceita sua dor
Deformado e mal tralado,
mas é um coração vivido
aceita sua dor
não aceita ser
menos do que foi.
Nem menor em seu amor.
Dante Locatelli
http://naquelesegundo.blogspot.com/2015/03/sem-coracao.html
menos do que foi.
Nem menor em seu amor.
Dante Locatelli
http://naquelesegundo.blogspot.com/2015/03/sem-coracao.html
Comentários
O poema começa com uma confissão dolorosa de perda, uma perda tão profunda que o eu lírico se sente desprovido de sua própria existência. Isso me lembra Fernando Pessoa quando ele escreveu: “O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente”. Aqui, no entanto, a dor não é fingida, mas profundamente sentida.
A segunda parte do poema fala sobre a busca por significado na dor. Isso me faz pensar em Carlos Drummond de Andrade e sua habilidade de encontrar beleza até mesmo na tristeza. O eu lírico, como Drummond, não se esquiva da dor, mas a aceita como parte de sua jornada.
Finalmente, o poema termina com uma nota de resignação, mas também de aceitação. Isso me lembra Mario Quintana, que uma vez disse: “A vida é o dever que trouxemos para fazer em casa”. Aqui, o eu lírico aceita seu dever, que é viver sem seu coração.
No geral, este é um poema poderoso que explora temas de perda, dor, busca por significado e aceitação. É um testemunho da resiliência do espírito humano e da capacidade de encontrar beleza mesmo nas circunstâncias mais difíceis. Parabéns por sua escrita!